<p>A alegada existência de "relações impróprias" entre a indústria farmacêutica e a Organização Mundial de Saúde (OMS), suspeita de criar falsas pandemias, está esta manhã em foco numa audiência à margem da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa.</p>
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Na sua origem está uma moção apresentada por 14 deputados encabeçados pelo próprio presidente da subcomissão de Saúde da Assembleia Parlamentar, o epidemiologista alemão Wolfgang Wodarg. Ouvido ontem pela TSF, o especialista, que integra o Grupo Socialista, insistiu que a gripe A é uma falsa pandemia e um dos "maiores escândalos médicos do século".
Na moção, a acusação é clara, a começar pelo título - "Falsas pandemias: uma ameaça para a saúde" - : "Para promover os seus medicamentos e as suas vacinas contra a gripe, as sociedades farmacêuticas influenciaram os cientistas e as autoridades responsáveis por normas de saúde pública, a fim de que alertassem os governos do Planeta".
Assim, "incitaram-nos a desperdiçar recursos - já pouco abundantes - destinados aos cuidados de saúde em favor de estratégias de vacinação ineficazes, expondo inutilmente milhões de pessoas com boa saúde ao risco de efeitos secundários desconhecidos de vacinas que não estavam suficiente testadas", acrescenta, exortando os estados-membros a averiguarem as consequências desse comportamento.
BE questiona ministra da Saúde
Na onda da iniciativa, o grupo do Bloco de Esquerda na Assembleia da República divulgou ontem oito perguntas à ministra da Saúde, questionando-a designadamente sobre os pressupostos da necessidade de vacinar 30% da população portuguesa e as razões da adjudicação do fornecimento das vacinas a uma única empresa - a multinacional Glaxo SmithKline.
Entretanto, a OMS, que na audiência de hoje se faz representar por Keiji Fukuda, conselheiro especial para a gripe pandémica do director geral da organização, reagiu às acusações de Wolfgang Wodarg. "O Mundo atravessa uma pandemia real. Classificá-la como falsa é não só errado mas também irresponsável", lê-se num comunicado.
Recordando que a sua missão é "prestar apoio independente aos estados-membros", a OMS assegura que toma precauções e "numerosas medidas de salvaguarda" contra "a influência de possíveis interesses impróprios", obtendo e tornando públicas as declarações de interesses dos seus consultores.
A OMS sustenta que a declaração de pandemia se baseou em análises laboratoriais, em informações epidemiológicas de vários países que, no conjunto, representaram um sinal de alerta, e que se verificou uma propagação geográfica "excepcionalmente grave" - de nove países em 29 de Abril, passou para 120 em 11 de Julho. O último balanço (sexta-feira) apontava 14.142 mortes em todo o Mundo.
"É preciso salientar que este processo ainda não terminou e ainda é cedo para se fazer um balanço", declarou ontem o director-geral da Saúde, Francisco George, citado pela agência Lusa, considerando que as medidas da OMS tiveram um "efeito positivo" no impacto da gripe A e distanciando-se das acusações do médico alemão.
Wodarg "presta um péssimo serviço à saúde pública" e está a "corroer a legitimidade da OMS", considerou o director da Escola Nacional de Saúde Pública, Constantino Sakellarides. Também ouvido pela Lusa, o antigo especialista da OMS explicou que "não é possível fazer previsões" exactas e que o planeamento "é sempre feito em função do pior cenário admissível". Se não se concretizar, há que "carregar com as consequências" de "ter gasto excessivamente", disse.