Diretores falam em "rutura iminente". Fenprof assegura que escolas vão ter dificuldade em conseguir substituições já a partir da próxima semana em diversas disciplinas.
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Há horários ainda por preencher mas o maior temor dos diretores é que nas reservas de recrutamento já não há muitos docentes por colocar em algumas disciplinas para assegurar as substituições de baixas ou aposentações. A Fenprof fez contas e garante que nas escolas estão "menos 117 professores" do que há um ano.
"Até parece fácil e sabemos que nunca foi tão difícil abrir um ano letivo", afirmou ontem Tiago Brandão Rodrigues. Durante a visita à secundária Fontes Pereira de Melo, no Porto, o ministro assumiu que este "vai ser um ano de provação" mas, confrontado com a falta de recursos, denunciada pela Fenprof, Brandão Rodrigues voltou a frisar que nunca as colocações foram feitas tão cedo e a recordar o reforço feito em 2020.
"É uma rutura eminente a muito curto prazo, especialmente em alguns grupos e regiões", assume o presidente da Associação de Dirigentes Escolares (ANDE). Manuel Pereira sublinha que o problema "está identificado há anos, tem vindo a agudizar-se e vai agravar-se ainda mais" sem ser divulgada "nenhuma estratégia" . O diretor pede "com urgência" apoios à fixação dos professores em regiões como Lisboa ou Algarve.
Há escolas onde faltam menos de cinco docentes, outras onde são mais de 10. "É um problema estrutural. A maior preocupação todos os anos", admite David Sousa, vice-presidente da Associação de Diretores (ANDAEP), que pede mudanças no regime de colocações.
"Não tarda, as escolas vão ter falta de professores de Informática, que só tem 38 por colocar na reserva. Mas Geografia, Filosofia, Física e Química, Biologia ou História são outras disciplinas que vão deixar de ter professores em breve, provavelmente em setembro", assegura Mário Nogueira. O líder da Fenprof acusa o ministro de "ser um figurante" em vez de "um protagonista" no sistema de ensino.
Alegria de começar
À margem de problemas, 1,2 milhões de alunos regressaram às escolas. Maria Clara Russo, de 5 anos, entrou ontem no 1.º ano. Dormiu mal na véspera e quase não conseguiu comer antes de sair de casa. "Estava muito ansiosa mas, quando a fui buscar, perguntou-me porque tinha ido tão cedo", conta a mãe, Liliana Russo.
Marília Borges, a professora de Geografia, de 23 anos, colocada num horário completo e anual em agosto, no agrupamento de Sines, também conheceu ontem os 20 alunos do 8.º ano de quem vai ser diretora de turma. Os restantes 86 alunos irá conhecê-los a partir de segunda-feira. A maior surpresa da apresentação, conta, foi a estranheza de muitos ao verem "uma professora tão nova".
José João Patrício perdeu a conta às horas extraordinárias e reuniões. Tomou posse em agosto e este ano não teve férias para preparar o seu primeiro ano letivo enquanto diretor do agrupamento de Tabuaço. Requalificar o espaço exterior da escola é a sua maior preocupação. "Com a bazuca é agora ou nunca", diz. Já Sofia Silva, assistente operacional que entrou para o quadro no agrupamento de Valadares, diz que os alunos regressaram animados, de máscara e cumpridores das regras.
À margem
140 mil testados
Com 99% dos professores e funcionários e "já uma grande percentagem de alunos entre os 12 e 17 anos" vacinados, "um em cada 1000" deram positivo para a covid-19 na testagem que está a ser realizada no arranque das aulas. "Uma taxa de 0,12% de positividade", frisou ontem o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.
Manifestação dia 5
Contra o "bloqueio negocial" e a falta de soluções para "problemas crónicos", explica Mário Nogueira, a Federação Nacional de Professores convocou para dia 5 de Outubro (Dia Mundial do Professor) o regresso às ruas: uma manifestação nacional, em Lisboa, junto ao Ministério da Educação, na Avenida Infante Santo.