PSP e GNR registaram um total de 1359 mordeduras de cães em 2018, mais 170 do que no ano anterior. Veterinários criticam falta de responsabilidade dos donos.
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Houve, em média, quatro ataques de cães a pessoas por dia em 2018. As autoridades policiais registaram 1359 participações de mordeduras de cães ao longo do último ano, um aumento face a 2017, quando foram registados 1189 ataques. As participações deram-se maioritariamente em áreas urbanas, da responsabilidade da PSP (1043) e 316 na área da GNR.
De acordo com os dados providenciados pelas autoridades ao JN, em 2019 há uma tendência para manutenção dos números de ataques de cães. No primeiro trimestre deste ano, registaram-se já 282 ataques, 237 pela PSP e 51 pela GNR. No mesmo período de 2018, houve 288.
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O aumento das matilhas de cães nas ruas devido à sobrelotação dos canis - que estão proibidos de abater animais desde outubro - é uma das explicações encontradas pelos veterinários para o aumento dos ataques. Mas também apontam em grande parte o dedo à irresponsabilidade dos detentores, que não têm aptidão para os controlar.
De acordo com Ricardo Lobo, membro da direção da Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios (ANVETEM), a intensificação das campanhas de adoção pode mesmo traduzir-se em perigos acrescidos.
"impingir animais"
"Assistimos a um autêntico impingir de animais de estimação, sem que se tenha em conta se os detentores têm capacidades para lidar com certas raças e certos cães de porte médio ou grande, não necessariamente as consideradas potencialmente perigosas", afirma Ricardo Lobo. "Portugal está a caminhar no sentido inverso ao desejável", acrescenta o dirigente da ANVETEM, que aponta o exemplo da Holanda, onde há uma série de entrevistas aos futuros detentores antes de se entregar o canídeo.
"Não é só um fator monetário, se as pessoas têm ou não dinheiro para fazer face aos custos médicos ou alimentares. Há que perceber se os detentores estão preparados para as exigências de educar um canídeo ou se o querem apenas por capricho, como prenda de Natal", alerta.
Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, adivinha um aumento de matilhas de cães vadios em zonas urbanas devido à sobrelotação dos canis municipais, contribuindo assim para o paralelo aumento de perigo de ataques na via pública.
"As crescentes matilhas representam um perigo para a saúde pública e de segurança para a população, sem que os municípios tenham capacidade para os recolher", lamenta o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários.
410 multas em 2018
Os cães que ataquem uma pessoa ou um animal integram automaticamente a lista de cães perigosos. Para estes animais, tal como os cães de raça potencialmente perigosa, é obrigatório o uso de trela e açaime na via pública, o treino junto de treinadores certificados e os seus detentores têm de frequentar uma formação teórica nas autoridades. Em 2018, as autoridades policiais autuaram por 410 vezes detentores que não cumpriram a lei de circulação na via pública e obrigatoriedade de treino, sendo este último incumprimento o que mais multas fez passar.
De acordo com dados da PSP e GNR, foram registadas 174 multas por falta de açaime e trela, 135 pela PSP e 39 pela GNR. Houve uma ligeira diminuição face a 2017 (176). No que diz respeito à falta de treino, houve 243 multas, 213 na PSP e 30 na GNR. Em 2017, apenas foram registadas nove, na área da GNR.