IPO do Porto foi único centro que manteve a colheita de células para doentes nacionais e estrangeiros durante o estado de emergência.
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O Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto foi o único centro do país a fazer, durante o período crítico da covid-19, colheita de células de medula óssea em dadores sem ligação familiar aos doentes. Os outros centros de colheita - IPO de Lisboa e Hospital de Santa Maria - suspenderam a atividade. A concentração fez aumentar o trabalho no Porto, numa altura em que dispararam os pedidos de países a braços com a pandemia. Até abril, o número de colheitas de medula óssea para os EUA superou o de anos anteriores.
"A atividade de colheita tem-se reduzido na Europa, e como aqui estávamos a dar resposta, tivemos mais pedidos", realça Susana Roncon, diretora do Serviço de Terapia Celular do IPO do Porto, explicando que o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) comunicou a nível internacional que, a partir de 16 de março, apenas o centro de colheitas do Porto estava a funcionar.
Entre 16 de março e 15 de maio, realizaram-se naquele hospital colheitas alogénicas (de dador para doente) a oito dadores (cinco a pedido do registo nacional de dadores - Cedace - e três a familiares de doentes). Dos cinco dadores chamados pelo registo nacional por serem compatíveis com um doente português ou estrangeiro, dois são do Norte, um do Centro e dois do Sul. "Recebemos um dador de Lisboa e estamos à espera de um de Tavira", realça Susana Roncon.
Em situação normal, pela proximidade geográfica, as doações deveriam ocorrer em Lisboa. A médica não poupa elogios a quem se faz à estrada para doar medula, mesmo em contexto difícil. "Não houve nenhuma recusa."
Grécia, Alemanha, Suíça, Espanha e EUA são os mais recentes destinos internacionais das células colhidas no IPO do Porto. "Normalmente, fazemos sete a oito colheitas por ano para os EUA, mas em 2020 já superámos isso", frisa a médica. De 16 de março a 15 de maio, o serviço fez também sete colheitas autólogas (do doente para o próprio) e 18 transplantes autólogos.
colheitas suspensas em Lisboa
No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, as colheitas estiveram suspensas entre 22 de março e o final de abril. Contudo, no dia 17 foi aberta uma exceção para colher medula para um doente internado no hospital. Na prática, diz fonte hospitalar, os doentes que precisaram tiveram resposta. Entre março e abril, foram feitos quatro transplantes e, até 15 de maio um total de 12 colheitas de medula.
No IPO de Lisboa, as colheitas para o resto do país e para o estrangeiro, bem como os transplantes, foram suspensos entre 16 de março e 20 de abril, segundo instruções do IPST, explica Manuel Abecasis, diretor do Departamento de Hematologia e da Unidade de Transplante de Medula. As colheitas autólogas mantiveram-se, tendo sido realizadas duas. Desde 24 de abril, foram transplantados cinco doentes e o médico acredita que a abertura de mais dois quartos, em breve, permitirá "recuperar parte do atraso causado pela suspensão no período referido".