Ricardo Leão deixa a liderança da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, depois da publicação de um artigo de opinião de António Costa, no qual o antigo primeiro-ministro critica a posição do autarca de Loures em relação ao despejo de inquilinos no âmbito dos desacatos ocorridos recentemente na região.
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A demissão do presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, da presidência da FAUL do PS ocorre após a publicação de um artigo de António Costa, anterior secretário-geral do PS, no qual critica o autarca por ter defendido o despejo "sem dó nem piedade" de inquilinos de habitações municipais que tenham sido condenados por crimes, na sequência dos distúrbios que têm ocorrido na Área Metropolitana de Lisboa após a morte de Odair Moniz por um agente da PSP.
Ricardo Leão comunicou a sua saída da FAUL, mas não da liderança da câmara, para evitar que o partido seja prejudicado pela polémica suscitada pela aprovação de uma recomendação do Chega na autarquia.
Na segunda-feira, o atual líder socialista, Pedro Nuno Santos, visitou o bairro do Zambujal, na Amadora, e apesar de condenar as declarações do autarca, considerou: "Todos nós, na nossa vida, temos momentos melhores e piores. Isso não nos define; o que nos define é o nosso contínuo, o trabalho ao longo do tempo".
Mas António Costa, num artigo no "Público" assinado juntamente com José Leitão e Pedro Silva Pereira, criticam o autarca e o próprio Pedro Nuno Santos com um caso que "ofende os valores, a cultura e a identidade do PS".
Na nota divulgada nesta quarta-feira, Ricardo Leão, apesar de agradecer a "solidariedade e apoio" manifestado "por todos" os presidentes de concelhias da FAUL do PS e "por todos" os presidentes de câmara no distrito de Lisboa, admite que o seu afastamento visa prevenir que "o Partido Socialista seja prejudicado por uma polémica criada pela descontextualização de uma recomendação aprovada por 64% dos vereadores da Câmara Municipal de Loures".
"Entendi ser esta a melhor decisão para me focar no meu trabalho na Câmara Municipal de Loures", autarquia à qual pretende recandidatar-se em 2025.
Na nota Ricardo Leão disse rejeitar "a associação entre criminalidade e imigração", afirmando que nunca fez essa associação, considerando que seria "atentatório dos valores humanistas do socialismo democrático e internacionalista".
"Continuarei a trabalhar no exercício do meu mandato popular como presidente da Câmara Municipal de Loures, como sempre empenhado na aplicação dos princípios do socialismo democrático e do humanismo que coloca as pessoas, em especial os mais desprotegidos, as mulheres e as crianças, no centro da ação política e das políticas públicas com direitos e deveres iguais para todos e todas", acrescentou.