Resultado eleitoral pode ditar a queda dos dirigentes no PSD e no CDS/PP. Restantes partidos pensam em 2023.
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Uma prova de sobrevivência para uns e uma rampa de lançamento rumo às legislativas para outros. Há muito que não estava tanto em jogo numas autárquicas. É que, se no PS só um terramoto poderia beliscar António Costa, no Centro-Direita duas lideranças estão em risco: as de Rui Rio (PSD) e de Francisco Rodrigues dos Santos (CDS/PP). Nos restantes partidos procura-se ganhar força negocial para o Orçamento, mas sobretudo um impulso rumo a 2023.
Com 161 câmaras conquistadas em 2017, o PS dá-se ao luxo de admitir a hipótese de perder 10 a 15 autarquias nas eleições de depois de amanhã (como a Figueira da Foz) e, ainda assim, considerar "um grande resultado". "É fundamental termos uma grande vitória do PS", pede António Costa.
Para tal, a grande arma tem sido o constante acenar com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). E, como nunca visto, o Governo saiu à rua para apoiar os candidatos socialistas. A estratégia deu polémica (ler página ao lado) e, segundo politólogos como José Palmeira, pode levar os eleitores a cederem ao que considera ser "uma chantagem".
"pouquinho melhor"
No lado oposto, porém, a esperança é que a polémica reverta a favor dos candidatos do PSD para que, na noite, eleitoral Rui Rio vá além do "muito pouquinho melhor" e não seja forçado a demitir-se face ao avanço no terreno de rivais como Paulo Rangel, que levou a liderança a apelar ao silêncio interno até às eleições.
O objetivo eleitoral (mais câmaras, eleitos e mandatos) é pouco ambicioso, para dar margem a que Rio se mantenha. O secretário-geral do PSD, José Silvano, acredita, porém, que há 30 câmaras que podem mudar para as mãos "laranja" que, em 2017, conquistaram 98.
Esse cenário a concretizar-se apagaria a voz dos críticos internos. Especialistas como José Adelino Maltez não consideram, todavia, que o PSD tenha sabido tirar proveito. "Verificou-se uma enorme incapacidade de argumentação da Oposição face a algo que era expectável. Não há nenhum governo que não venda o seu peixe", argumenta.
chega ultrapassado
A incapacidade de aproveitar o deslize de António Costa, também com o caso da refinaria de Matosinhos, alarga-se ao CDS-PP, onde, embora menos mediática, a liderança também se encontra em risco. A tábua de salvação de Francisco Rodrigues dos Santos reside nas 146 coligações que firmou com o PSD, tornando difícil na noite eleitoral apurar o peso próprio dos centristas.
"Tenho a certeza absoluta de que o partido vai crescer nas autárquicas", tem afirmado, por isso, Francisco Rodrigues dos Santos.
Se no Centro-Direita o clima é de que existe um élan para as autárquicas, em partidos como o Chega as expectativas, de se tornar na terceira força política e ganhar projeção para as legislativas, podem sair goradas. "Fez um campeonato dos pequeninos. Tudo completamente vazio. Pode acabar ultrapassado pela IL e pelo PAN", crê Adelino Maltez.
Já à Esquerda, o BE tem procurado, nas autárquicas, ganhar força negocial para o Orçamento do Estado. E é isso mesmo que a coordenadora Catarina Martins tem pedido: "mais peso".
COMUNISTAS
"Guerra" só será vencida com reforço da CDU
A descer há seis eleições consecutivas, os comunistas têm nas autárquicas uma prova de sobrevivência como partido. Nas legislativas de 2019, passaram de 17 para 12 deputados. Há quatro anos, perderam dez câmaras, ficando com 24. A campanha foi centrada, assim, nos bastiões da CDU, com Jerónimo de Sousa a dizer que "há um bom ambiente". Porém, "ganhar a guerra, só reforçando a CDU", avisou.