A bastonária dos Enfermeiros acusou esta quarta-feira o Governo de ter ignorado no Orçamento do Estado para este ano as propostas da Ordem para melhorar as condições de trabalho dos profissionais e o Serviço Nacional de Saúde.
Corpo do artigo
"A Ordem [dos Enfermeiros (OE)] tem feito o seu papel, do ponto de vista profissional, para dar todos os instrumentos ao Governo para poder tomar as melhores decisões e implementar as melhores medidas. Se eu vejo isto refletido no Orçamento do Estado? Não vejo", afirmou Ana Rita Cavaco, que falava à agência Lusa a propósito do Congresso dos Enfermeiros, que decorre entre quinta-feira e sábado em Braga, com o lema "Todos pela saúde".
A bastonária da OE disse ver, no entanto, "outras coisas" no Orçamento do Estado para 2022, que está em debate no Parlamento, que considera preocupantes, como a "criação de superestruturas".
"Quando não consegue resolver um problema vai-se criando estruturas e agora é a direção executiva do SNS. Portanto, já temos um Ministério da Saúde, já temos uma ACSS [Administração Central do Sistema de Saúde], continuamos a ter as ARS [Administração Regional de Saúde] e agora temos mais uma direção executiva do SNS", alertou.
Ana Rita Cavaco disse concordar com a construção dos novos hospitais e com a dedicação plena, mas para todos os profissionais de saúde e não nas condições descritas no orçamento.
"Eu não posso dizer que estou a dar uma dedicação exclusiva a um médico, dizendo que a única coisa que não pode fazer é ocupar cargos de chefia no privado. Isso não é nenhuma dedicação exclusiva, ou trabalho no Serviço Nacional de Saúde ou no setor privado", defendeu.
Criticou também o facto de o valor previsto no orçamento para o SNS, para a área da saúde e para as carreiras ser "exatamente igual" ao anterior.
"Não mudou nada, mas o Governo também não escondeu quando disse que o valor era exatamente o mesmo. Temos uma subida de mais de 700 milhões no montante global face ao ano anterior, mas é o mesmo valor do orçamento que tinha sido chumbado", apontou.
A bastonária referiu que cerca de 52% deste orçamento são destinados para aquisição de bens e serviços, medicamentos, exames, parcerias público privadas, terapêuticas, etc. e "apenas 38%" para despesas com pessoal. "Estamos a falar de mais ou menos 200 milhões. Isto para valorizar carreiras não chega".