"Bazuca" paga central de dessalinização que começará a funcionar no final de 2025
Numa primeira fase, tratará oito milhões de metros cúbicos de água por ano, ou seja, 10% do consumo o Algarve.
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A água do mar poderá vir a ser transformada em água potável para consumo humano, no Algarve, daqui a três anos. O projeto para a construção de uma central de dessalinização, a primeira no continente, já está em curso. O principal objetivo é ajudar no combate à situação de seca que afeta a região e o país.
A localização da futura central ainda está a ser estudada, prevendo-se que seja entre Loulé e Portimão. A obra está prevista no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), financiado em 200 mil euros pela chamada "bazuca" europeia para projetos de melhoria da eficiência hídrica. Destes, o Governo destinou 45 mil euros para a central dessalinizadora algarvia.
Numa primeira fase, serão tratados cerca de oito milhões de metros cúbicos (m3) por ano, o que representa menos de 10% dos consumos urbanos da região. Mas "ficará preparada" aumentar a capacidade para 24 milhões anuais, garante o presidente da Águas do Algarve, a quem caberá a gestão da infraestrutura. António Eusébio prevê que a central esteja pronta "só para final de 2025", havendo "algumas condicionantes ambientais" a ultrapassar, começando pela escolha do local onde irá ser feita captação da água salgada.
"Não poderá ser muito longe da costa para não fazer disparar os custos para os consumidores", frisa.
Hotelaria já faz
No Algarve, já existem outras centrais dessalinizadoras, mas em menor escala, em empreendimentos hoteleiros. A primeira foi criada em 2015, no Vila Vita Parc, em Porches, Lagoa, no concelho de Lagoa.
O projeto resulta de um investimento de meio milhão de euros e foi idealizado para a rega dos espaços verdes, que ocupam mais de metade dos 23 hectares do empreendimento, situado junto à costa algarvia. Mas depressa se estendeu.
"Inicialmente, trabalhámos só para o sistema de rega e verificámos que a captação nos permitia chegar aos lagos. Neste momento, já estamos a fornecer cerca de sete piscinas", explicou o diretor de qualidade do Vila Vita, André Matos. A estação é subterrânea e opera sob um campo de ténis. Todos os dias são transformados 550 mil litros de água. "Dos 100% que íamos buscar à rede em 2014, vamos buscar apenas cerca de 30% para o funcionamento de tudo o resto: alojamento, águas de banho e de consumo para os restaurantes", acrescenta o responsável.
Ligação ao guadiana
Além deste projeto, está em estudo, no âmbito do PRR, a ligação de uma captação de água no rio Guadiana, no Pomarão, à barragem de Odeleite, em Castro Marim.
Segundo o plano consultado pelo JN, esse reforço passará, em particular, pela "ligação entre os sistemas de abastecimento de água do Sotavento/Barlavento Algarvio, reforçando as afluências à albufeira de Odeleite e otimizando a exploração da sua capacidade de armazenamento, permitindo a exploração de parte do seu volume morto".
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Onde mais se faz?
A Arábia Saudita é o país do Mundo que mais água dessaliniza, seguida dos Estados Unidos (San Diego, Califórnia), Emirados Árabes Unidos e Espanha.
5 milhões de m3/dia
Em Espanha, que tem mais de mil dessalinizadoras, existe uma produção de 5 milhões de m3 de água dessalinizada por dia, particularmente no Sul (Múrcia e Alicante) e nas ilhas Canárias, que é usada para consumo humano. O país faz também tratamento de águas residuais para agricultura.
90% em Israel
Israel abastece cerca de 90% da população com água dessalinizada, com preços abaixo de 0,50 euros/m3, o valor a que em Portugal é vendida a água aos municípios, diz o engenheiro Poças Martins.
Austrália usa em SOS
A Austrália tem apostado nestas unidades. Nas grandes cidades, como Sydney e Melbourne, foram instaladas dessanilizadoras para um terço das necessidades da população. Em situação de escassez, as dessalinizadoras entram em funcionamento para compensar o défice.
Chuva aproveitada
A ilha de Singapura, que tem 5,5 milhões de habitantes, começou por importar água da Malásia. Atualmente aproveita a chuva, trata as águas residuais (equivale a 40% do consumo público) e dessaliniza (10% do consumo humano).