Coordenadora do BE pressionada a limitar mandatos da Direção e acusada de ter largado bandeiras do partido. Críticas ao PS por querer conter despesa.
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Falta de democraticidade interna, clientelismo, estratégia errada nas presidenciais, secundarização das bandeiras do Bloco de Esquerda. São algumas das críticas que Catarina Martins vai ouvir, hoje e amanhã, em Matosinhos, numa Convenção Nacional em que se reclama a limitação de mandatos para a Direção. Mas as quatro moções opositoras à estratégia da coordenadora do BE não partem com grande margem para fazer vingar as suas ideias.
A coordenadora do BE chega à Convenção com o triplo dos delegados da moção E "Enfrentar o empobrecimento, polarizar à Esquerda", que junta os seus mais diretos opositores internos, alguns ex-deputados, como Pedro Soares e Carlos Matias, além do antigo secretário-geral da UDP, Mário Tomé. Críticos que têm atacado a estratégia do BE nos últimos dois anos e até a forma como a convenção foi organizada, com metade dos delegados.
Os pontos negativos apontados à Direção são muitos. Vão desde a secundarização do seu programa eleitoral, à incapacidade de impor medidas nos orçamentos do Estado e à estratégia das presidenciais que levou a lançar a candidatura de Marisa Matias, que perdeu 300 mil votos face às eleições de há cinco anos.
"O BE secundarizou o seu programa eleitoral, ao optar por manter uma solução institucional com o PS como eixo central da sua estratégia", lê-se na Moção E, acusando o partido de ter sido incapaz de se "afirmar como oposição autónoma" e de ter falhado "o objetivo de ser força de Governo".
austeridade de costa
"A experiência da "geringonça", da qual o PS se afastou e não quis reeditar, mostrou que era possível uma política que valorize salários, pensões e apoios sociais", defende, contudo, Catarina Martins, na moção A "Sair da crise, lutar contra a desigualdade", subscrita pela bancada, em particular pelo líder parlamentar, Pedro Filipe Soares. As críticas da coordenadora do BE vão para o Governo, que acusa de ter ido além do que era exigido por Bruxelas nas metas para o défice.
"Logo nos primeiros meses de vigência do Orçamento (retificativo) comprovou-se a sua inadequação nas áreas da saúde, dos apoios sociais e dos abusos laborais", lê-se no documento estratégico de Catarina Martins, onde se ataca ainda o Executivo socialista de António Costa por "procurar impor em cada negociação uma estratégia de contenção de despesa".
Entre as cinco moções que vão ser discutidas na convenção existem dois pontos em comum: a necessidade de o BE concorrer sozinho nas eleições autárquicas deste ano e a defesa de que a regionalização deve continuar a ser uma bandeira central do partido.
OUTRAS MOÇÕES
Limitação mandatos
A moção Q - "Quebrar correntes, lutar pelo socialismo" (nove delegados), exige a limitação de mandatos no BE e referendos internos. Externamente, pede a saída da NATO, o fim do Frontex e um referendo ao Tratado Orçamental.
Estar ao lado do PSD
A moção C - "Mais democracia, mais organização" (oito delegados), diz que o BE deve estar disponível para estar ao lado do PSD, "sempre que estiver em causa a luta pela democracia e contra o fascismo".
Contra opção por Marisa
Na moção N - "Por uma revolução tranquila" (cinco delegados) contesta-se a aposta em Marisa Matias nas presidenciais e acusa-se a direção do BE de ter criado uma "rede clientelar interna" de emprego.