A deputada do BE, Mariana Mortágua, criticou o "jogo viciado" que permitiu ao ex-banqueiro João Rendeiro fugir do país. "Quem tem os recursos certos usa a lei para fugir à lei", considerou, lamentando o "silêncio" de CDS, Chega e IL sobre o tema.
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"Há várias perguntas que não queremos calar: o que estava a fazer em Londres um homem duas vezes condenado por crimes económicos, a poucos dias da sua terceira condenação?", questionou a bloquista. "Como é possível ter-se excluído o perigo de fuga?"
Mariana Mortágua também exigiu saber "por que razão um juiz decidiu conceder a João Rendeiro uma medida de coação que, de facto, é uma tácita autorização de fuga a um criminoso condenado". Insistindo nas críticas ao magistrado responsável, indagou: "Terá ele nome?".
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A parlamentar sustentou que o país tem problemas de regulação do sistema financeiro e de investigação de crimes económicos. "O sistema insiste em provar que a impunidade é um privilégio que o dinheiro e o poder podem comprar", referiu.
Para Mariana Mortágua, fugas como a de Rendeiro, ex-presidente do BPP, só são possíveis devido a esquemas que incluem sempre "um emaranhado se contas offshore, veículos financeiros e testas-de-ferro". Essas estratégias, considerou, são desenhadas "por reputados consultores e advogados".
"Tão reputados que os encontramos aqui no Parlamento a exclamar que chega de corrupção", atirou, referindo-se a André Ventura, líder do Chega. "No caso de Rendeiro, um desses juristas arquitetos de labirintos foi José Miguel Júdice, célebre avaliador televisivo dos vícios e virtudes da praça", denunciou.
À Direita, só o PSD falou. A social-democrata Mónica Quintela comentou o tema escolhido pelo BE para a sua declaração política e considerou que a fuga de Rendeiro é "um escândalo" que prova "a claudicação dos sistemas financeiro e jurídico". "É uma pesada derrota para o sistema judicial", afirmou, argumentando que os "populismos" crescem devido ao sentimento de "total impunidade" para ricos e poderosos que casos como este alimentam.
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Mónica Quintela perguntou a Mariana Mortágua se o BE está disponível para acompanhar o PSD na reforma do sistema judicial ou se, pelo contrário, continuará "colado" ao PS. A bloquista respondeu que seria preciso saber "em que sentido" essa reforma vai, argumentando que a última mudança impulsionada pelos social-democratas na Justiça aumentou as custas e ampliou a clivagem entre ricos e pobres.
Também Constança Urbano de Sousa, do PS, referiu que a fuga de Rendeiro "não é um problema da tão falada reforma da Justiça", por se tratar de uma questão "concreta". "O PSD fala muito em reforma mas não conhecemos nenhuma proposta, a não ser a mudança do Tribunal Constitucional e do Supremo Tribunal Administrativo para Coimbra", ironizou.
António Filipe, do PCP, classificou a fuga de João Rendeiro como "um vexame" para o país e para a Justiça. Segundo o deputado, este episódio colocou a nu que Portugal tem "uma Justiça de classe, dura e implacável com os fracos e fraca com os fortes".
José Luís Ferreira, do PEV, considerou que a saída do ex-banqueiro do país é digna de "um filme de ficção", denunciando uma Justiça que "não funciona" para quem tem poder.
O CDS, a IL e o Chega não fizeram qualquer intervenção sobre o assunto, o que levou Mariana Mortágua a criticar o "silêncio" destes três partidos.