"A pobreza não é um projeto-piloto". Catarina Martins esteve reunida no Porto com cuidadores informais e exige que no próximo Orçamento do Estado se garantam os direitos inscritos no Estatuto do Cuidador Informal, publicado a 6 de setembro.
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Se contar uma história na primeira pessoa pode ser doloroso, quem o faz por uma causa, treme na voz, mas é firme na convicção.
O dia de campanha do BE começou no Porto com uma reunião com cuidadores informais que se chegaram um a um para o centro da sala e relataram casos de carência social e económica. Foram 11 histórias, na primeira pessoa. "Estes problemas eram invisíveis porque ficavam fechados dentro de casa", agradeceu Catarina Martins.
A líder do BE apontou três pontos-chave: "garantir no Orçamento do Estado (OE) verbas para efetivar direitos que já estão inscritos no estatuto"; "ir ao Código de Trabalho proteger quem quer conciliar estar a trabalhar com o cuidar; e é preciso ir à Segurança Social proteger toda a gente que não tem a carreira contributiva".
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Catarina Martins estava a terminar o primeiro ponto quando foi interrompida. "E acabar com projetos-piloto antes de começar?", ouviu-se na sala de aulas da Escola Superior Artística do Porto. "A pobreza não é um projeto-piloto, é a vida das pessoas. Os projetos-piloto sobre pessoas que estão tão vulneráveis são errados e o BE lutou para que nada disto fosse um projeto-piloto", defendeu a coordenadora.
Estima-se que 800 mil pessoas desempenhem o papel de cuidador informal, cerca de 200 mil a tempo inteiro. Presente na reunião, o deputado José Soeiro, um dos envolvidos na formulação do Estatuto Informal do Cuidador, explicou que "o desenho" do apoio social a prestar terá de ser feito até ao início do ano.
"As questões do emprego não ficaram inscritas na lei. O descanso ao cuidador já existe, mas é preciso muito mais investimento nessa rede, ficou por definir a fórmula exata do pagamento que as pessoas vão ter de fazer e o reconhecimento da carreira contributiva para trás", afirmou o segundo candidato pelo Porto (Catarina Martins é cabeça de lista pelo mesmo distrito).
Joaquim Ribeiro, ex-cuidador informal, foi um dos que intervieram. Consegue dividir a vida em três tempos e o último é o que mais o preocupa. "Tenho uma lacuna de carreira contributiva entre 2009 e 2017", começou por contar o ex-empresário. "O passado é sofrido, o presente é muito doloroso - já temos uma idade avançada, estamos descapitalizados -, e o meu futuro está altamente comprometido", suspirou.
A ele se juntou a voz de Rosália Ferreira. Cuida da filha há 38 anos. "Abriu-se uma mão cheia de esperança, que afinal não está tão perto como imaginava", diz em relação ao Estatuto que quer ver na prática com apoios que reconheçam o seu papel.