Munícipes incentivados a aderir com desconto de um euro na tarifa da água. Sacos entregues à porta.
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A campainha soou no n.º 9 junto ao Palácio de Queluz e José Antão, 59 anos, já suspeitava do que se tratava. Era a entrega dos inconfundíveis sacos verde-fluorescente para fazer a reciclagem seletiva de biorresíduos, que o município tem estado a implementar desde 2020 e já tem 15 mil adesões entre os 160 mil clientes dos SMAS. "Boa tarde, viemos fazer o reforço de sacos", disse Miguel Pereira, dos SMAS de Sintra, o responsável pela distribuição que o JN acompanhou.
Pode ir quase tudo lá para dentro: restos do jantar, cascas de vegetais, guardanapos e até cotonetes podem ser deitados no contentor acastanhado onde o lixo se prepara para ganhar uma nova vida. A meta para implementar a reciclagem seletiva é só no fim deste ano, mas em Sintra já é uma realidade: nada se perde (quase) tudo se recicla.
A cor dos sacos é peculiar, mas faz tudo parte do projeto. A cor berrante é para que os sacos possam ser facilmente detetados junto do restante lixo e separados nas fábricas da TratoLixo (entidade em alta que assegura o tratamento dos resíduos dos concelhos de Sintra, Cascais, Oeiras e Mafra). Uma vez separado, todo o lixo é canalizado para a produção de composto e energia.
José Antão "já tentava reciclar", pelos menos os plásticos. Mas desde que aderiu a este sistema, no início de 2022, passou a reciclar todos os biorresíduos que produz em casa. A iniciativa é boa, elogia. "Cabe-nos, como contribuintes, participar". Não custa nada e ainda contribui para o ambiente: produz energia verde.
No dia em que o JN fez esta reportagem, José Antão recebeu uma "amostra de composto" pelas mãos de Carlos Vieira, diretor delegado dos SMAS de Sintra. É uma pequena amostra para que as pessoas percebam que aquilo que reciclam resulta em alguma coisa, explicou o diretor.
CTT entregam sacos
O sistema cresce a bom ritmo, mas ainda está na fase de arranque e precisa de alguns ajustes, nota Carlos Vieira. Entusiasmado com o projeto, o diretor revela que os CTT também ajudam na distribuição dos sacos. Sintra, Oeiras, Cascais e Mafra querem antecipar-se à meta do Governo.
A porta abre e toda a comitiva tem autorização de Maria das Dores para subir. Miguel Pereira dirige-se à cozinha para saber se tem corrido tudo bem e tirar dúvidas. "Isto é do almoço", mostra Maria das Dores, apontando para o contentor com o saco semicheio. Há muitos anos que faz reciclagem e bastou um pequeno ajuste para aderir a este novo sistema.
Não custa nada, garante: é só colocar tudo o que é biorresíduos no saco e, quando estiver cheio, colocar no contentor indiferenciado, contou Maria das Dores. Em dois a três dias enche um saco, a menos que seja dia de descascar legumes.
"E sabe que pode colocar alimentos cozinhados e crus?", questionava Carlos Vieira. "A vantagem é mesmo essa", retorquiu Maria das Dores, explicando que, ao contrário da compostagem tradicional, "em que só podem ser usados os verdes e os castanhos", neste sistema "faz grandes aproveitamentos" porque recicla muito mais coisas.
Após as duas primeiras paragens para entrega de reforço dos sacos - podem ser pedidos por telefone ou através da Internet -, a terceira foi uma nova adesão. Marisa Luzia, professora do 1.º Ciclo, com 29 anos, tem uma grande preocupação ambiental e quer começar a reciclar os biorresíduos.
Miguel Pereira explica, detalhe a detalhe, como funciona o processo. Depois de cheio, é só colocar o saco no lixo. E "nós SMAS vamos levar isto para a TratoLixo. E como é que eles vão reconhecer? Pela cor", explica.
Miguel Pereira dá conta do entusiasmo geral da população: a vontade de participar é notória. "E ajuda o facto de os sacos serem gratuitos", acrescentou Carlos Vieira, revelando que, desde janeiro, passou a haver um desconto de um euro/mês na tarifa da água a quem adere ao sistema. Vai ser mais um incentivo, acredita o diretor dos SMAS de Sintra.