O sociólogo Boaventura Sousa Santos, que defende a demissão de Catarina Martins da liderança do BE, destacou ao JN, entre possíveis sucessores, a deputada Mariana Mortágua. Mas a coordenadora não arreda o pé. "Cá estarei para cumprir o mandato por inteiro", garantiu aos "caçadores de cabeças". O ex-dirigente João Teixeira Lopes acusa o independente de atacar a líder por "ressentimento" e o crítico Pedro Soares recusa pedir cabeças, exigindo mudanças de fundo.
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O sociólogo Boaventura Sousa Santos defende a demissão da líder bloquista por considerar que é a principal autora de uma estratégia que levou a uma razia eleitoral, e que "falhou" quer nas negociações do Orçamento do Estado (OE), quer na campanha.
"No lugar de Catarina Martins demitia-me", insistiu. Deu o exemplo de outros líderes para desdramatizar. Além disso, "o BE tem muita gente competente" para liderar, referiu ao JN, apontando de imediato Mariana Mortágua, pelos "conhecimentos de Finanças" e pela "luta contra a corrupção".
Mas a atual coordenadora disse esta terça-feira sentir-se "muito confortável com o mandato". "Cá estarei para cumprir o mandato por inteiro", garantiu aos "caçadores de cabeças", também numa alusão ao social-democrata José Luís Arnaut, que afirmou que o PS não tinha "as meninas do Bloco a chatear".
"Não basta lavar a cara"
Pelo meio, o crítico interno Pedro Soares exigiu outro rumo ao BE, mas disse ao JN discordar do pedido de demissão porque mudar de estratégia é muito mais do que "lavar a cara" ao partido. Recusa fazer de Catarina Martins o "bode expiatório" e defende uma "mudança de fundo", sem "cabeças a rolar".
Por sua vez, questionado sobre as críticas do seu colega sociólogo, João Teixeira Lopes, ex-dirigente e ex-candidato à Câmara do Porto, destacou que Boaventura Sousa Santos não é sequer militante e só toma uma posição "destrutiva" por "ressentimento" porque o BE não seguiu as suas orientações.
É neste clima que a Mesa Nacional avalia sábado os resultados: o BE caiu de 19 para cinco deputados.
Penalizados pelo OE
Boaventura Sousa Santos admite que "se mudarmos as pessoas e não mudarmos as políticas, não mudamos nada". Mas nota que a atual coordenadora do BE é a grande responsável por uma estratégia errada "ao longo destes anos" e "falhou" na negociação do Orçamento do Estado (OE). Em pandemia, quando a população preza a estabilidade, crê que BE e CDU foram "muito penalizados por chumbarem o OE". E diz que o receio de ascensão da extrema-direita concentrou votos no PS, porque Rui Rio "não criou um cordão sanitário à volta do Chega".
"Lógica do Titanic"
O seu artigo de opinião no Público, "Obviamente, demita-se!", abriu a polémica. O sociólogo, que pede a Catarina que não siga a "lógica do Titanic", de "continuar à frente do barco mesmo que ele se afunde", acusou-a de passar "a primeira metade da campanha a justificar a decisão da rejeição do OE e a segunda metade a parecer querer pedir desculpa por tê-lo feito". "Que credibilidade pode ter tal dirigente?", questiona Boaventura Sousa Santos.
Para João Teixeira Lopes, aquela é uma posição "destrutiva" e "absurda" de quem não tem autoridade para pedir a demissão de Catarina Martins, por ser independente e por ter optado agora por "votar no Livre". Mas Sousa Santos assegura que votou "sempre no BE, exceto em 2011", embora admita ter "muita estima pelo Livre e por Rui Tavares".