Rui Rosinha tem 85% de incapacidade e já fez 14 operações.
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A vida de Rui Rosinha, 40 anos, mudou do dia para a noite, desde 17 de junho de 2017. O bombeiro voluntário de Castanheira de Pêra teve de comprar uma agenda com horas, para não falhar aos inúmeros tratamentos que faz por semana em Coimbra, onde é acompanhado por médicos de diversas especialidades. Com um atestado de incapacidade de 85% por cinco anos, ficou gravemente ferido na sequência de um acidente num cenário de incêndio.
Com problemas de locomoção e de mobilidade, Rui Rosinha é sujeito a uma hora e meia de fisioterapia por dia. Os tratamentos aos braços, às pernas, às mãos, aos pés são alternados e a dor e cansaço são visíveis, no final de cada sessão. De baixa psiquiátrica desde o dia do acidente, a mulher, Marina Rodrigues, 39 anos, trocou o jardim de infância pelo acompanhamento constante do marido.
"A vida que tinha até 17 de junho acabou-se. Era fiscal camarário, bombeiro, estava ligado ao clube local e acompanhava os meus filhos no futebol e nas atividades", recorda Rui Rosinha, emocionado. Depois de ter estado dois meses e três semanas em coma e de ter sido submetido a 14 operações, perdeu a conta às especialidades médicas em que é seguido. "Oftalmologia, consulta da dor, urologia, pneumologia, ortopedia, cirurgia plástica, psiquiatria, psicologia", enumera, consciente de que talvez esqueça algumas.
Quase um ano após o acidente, continuam a ser descobertas novas mazelas, como no olho e na mão esquerdos. "Começámos no mais urgente e agora estamos focados noutros pormenores. Estamos muito longe de saber o que é que isto vai dar." As lesões provocadas pelas chamas são visíveis, sobretudo nas mãos, e continua a ter dores muito fortes nos pés ou quando mexe o braço esquerdo.
Depois de seis meses de internamento, Rui Rosinha foi viver para casa dos sogros. "Mudei a rotina de toda a família", lamenta. Embora não consiga esquecer a noite em que a sua vida se tornou um pesadelo, o bombeiro prefere não recordar esse momento "doloroso", nem se pronunciar por lhe ter sido atribuída uma pensão de invalidez de apenas 267 euros.
Apesar de não ter voltado a vestir a farda, continua atento às notícias de forma obsessiva, por sentir preocupação com os amigos e familiares bombeiros. "Custa muito ouvir certas coisas. Vejo muita gente a opinar sem ter noção do que é passar 14 ou 15 horas sem comer ou cinco ou seis horas sem beber. Querem descredibilizar os bombeiros e isso não aceito."