A pandemia desencadeou uma corrida desenfreada às bicicletas, por quem se viu privado do ginásio, por quem foge do transporte público ou pelas famílias, como forma de manter as crianças ativas durante o confinamento.
Corpo do artigo
Mas também paralisou a indústria em todo o Mundo, como em Portugal, o maior exportador e um dos maiores produtores da Europa. Os cortes no abastecimento foram inevitáveis e nem a retoma acelerada da produção está a ser capaz de responder a este exponencial e continuado aumento da procura. Muitos stocks estão, por isso, esgotados - há clientes a esperar meses por um modelo.
12337004
A maior fábrica europeia de montagem de bicicletas, a portuguesa RTE, estava a produzir diariamente quatro mil unidades antes do surto. Quando reabriu, subiu para cinco mil, com duas das seis linhas de produção a trabalhar em dois turnos. "Mas ainda vai demorar até que tudo volte à normalidade", avisa Bruno Salgado, administrador da empresa que tem na Decathlon um dos seus principais clientes. Nesta cadeia de desporto, as vendas de bicicletas passaram a representar 30% do volume de negócios em Portugal, quando em 2019 não ia além dos 10%.
Já a Bike Zone ultrapassou, no final de maio, a faturação total do ano anterior só no comércio eletrónico. "Podíamos estar a vender muito mais, mas não há bicicletas para entrega - se quiser uma de montanha, de gama média, por exemplo, só em setembro é que deveremos ter disponível. Estamos a perder cerca de 10 mil euros todos os dias por causa da rotura de stocks", explica Hugo Jacinto, responsável do departamento de apoio da loja online da cadeia Bike Zone do grupo português há 25 anos no mercado.
Como papel higiénico
No canal de e-commerce KuantoKusta, a procura registou um crescimento de 380% entre março e maio, quando comparado com o período homólogo do ano anterior - 290% no caso das bicicletas e trotinetas infantis e 70% nas de BTT.
"Está-se a comprar bicicletas como papel higiénico no início da pandemia", dizia um dos maiores analistas das tendências da indústria nos Estados Unidos, onde, nos últimos dois meses, as vendas conheceram o seu maior pico desde os anos 70. Em Portugal, não há memória de um boom do género - em 2018, seguia apenas no 13.o lugar do ranking de vendas de "bikes" convencionais na União Europeia, segundo dados da Confederação Europeia da Indústria de Bicicleta.
Perante a escassez de produção nova, as pessoas viraram-se para o mercado de segunda mão. No OLX, o número de contactos disparou, tal como o de novos anúncios relacionados com as duas rodas, que aumentou quase 90% entre fevereiro e maio. O que fez com que a bicicleta seja hoje a palavra mais pesquisada nesta plataforma digital, quando antes não passava do nono lugar. A pandemia pôs-nos a dar ao pedal.