Peixe congelado, arroz, azeite, bolachas e atum não são entregues há sete meses.
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O cabaz de bens, entregue às famílias com carências económicas, tem cada vez menos alimentos.
Dois meses depois de o JN ter denunciado que os beneficiários estavam a receber apenas 15 dos 21 alimentos do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC), a situação agravou-se. Em março, voltaram a entregar leite e cereais, mas o cabaz só tinha 12 produtos. Com a escalada de preços de bens essenciais, devido à guerra, o desespero aumenta.
M., 54 anos, confirma que, no mês passado, o cabaz já tinha cereais e leite, embora em menos quantidade. "Recebíamos 18 litros por mês, porque davam seis pacotes por pessoa, e passámos a receber seis", conta. Ou seja, apenas dois por cada elemento do agregado familiar de Leiria, onde só o marido trabalha.
Cavala, feijão, grão, tomate pelado, mistura de vegetais congelados e manteiga também foram eliminados do cabaz em março, faltando, ainda, peixe congelado, arroz, azeite, atum e bolachas há sete meses. M. diz que, desde então, nunca mais comeram peixe, porque um ordenado a dividir por três pessoas não o permite. "Os alimentos principais não vêm no cabaz. Isto é gozar com a gente."
"Parece que estamos a passar, outra vez, pelo período do racionamento de alimentos. Isto é uma autêntica vergonha", observa C., assistente social de Leiria. "As pessoas dizem que já não vale a pena ir buscar os cabazes", assegura, tendo em conta a despesa do táxi. "É um atentado ao direito das pessoas. Quem deve proteger, desprotege."
Há quem já não vá buscar
Assistente social em Coimbra, J. confirma que os beneficiários comentam que os cortes sucessivos nos cabazes já não justificam ir buscar os 12 alimentos. "É triste. Os idosos são os que mais me comovem", observa I., assistente social em Setúbal, que se sente impotente perante o agravamento da condição de vida das pessoas, às quais os técnicos chegam a pagar a viagem de táxi, quando os beneficiários não têm dinheiro.
A assistente social de Setúbal sente-se revoltada. "Nas reuniões que temos com parceiros, de que faz parte a Segurança Social, falamos sobre este assunto, mas ninguém faz nada", lamenta. V., assistente social na Guarda, confirma que também só receberam 12 dos 21 alimentos e alerta para o risco de se estragarem alimentos, quando forem entregues todos de uma vez, como já sucedeu no passado. O JN pediu esclarecimentos ao Ministério da Segurança Social, mas não obteve resposta.
Saber Mais
Impugnações judiciais
Há dois meses, o Governo justificou as falhas na entrega dos bens alimentares com impugnações judiciais aos concursos para compra de alimentos e com a "falta de produtos no mercado".
Combater a pobreza
Co-financiado pela União Europeia, o POAPMC foi criado para combater a pobreza e a exclusão social em Portugal, missão que está a ser comprometida com a falha na entrega de alimentos, há sete meses.