A pandemia mudou a face do espaço ribeirinho do Cais de Gaia, que, até há dois anos, fervilhava de gente. O turismo desapareceu, os visitantes nacionais são escassos, os comerciantes lutam dia após dia para conseguirem manter as portas abertas. O movimento é quase nulo, mas a esperança não morre.
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Tem vista privilegiada para a Zona Histórica do Porto, é emoldurado por caves de vinho do Porto que carregam consigo história e tradição, tem restaurantes, tem bares, tem cafés, tem casas antigas e montras modernas, tem um mercado municipal renovado e de cara lavada. Mas tem pouca gente que o visita. Desde o início da pandemia que o Cais de Gaia é um deserto de gente. Nem com o alívio das restrições as coisas melhoraram, queixam-se os proprietários de negócios no local que outrora foi o ponto da cidade com mais pessoas por metro quadrado.
"Os principais frequentadores do Cais de Gaia eram turistas estrangeiros. Não só passeavam, como consumiam bastante. Com a pandemia, o turismo acabou e deixámos de faturar", lamenta José Santos, proprietário da Tasca do Carago, que abriu poucos meses após os casos de covid dispararem, em 2020.
Os turistas são poucos, o negócio não é o mesmo sem eles
Com uma esplanada com capacidade para 500 pessoas, as mesas vazias são a prova do desalento. "Já se começa a notar algum movimento, mas muito pouco", descreve José Santos.
Ao lado, o mesmo vazio preenche os dias da Caló Grocery Store, mercearia fina para clientes que agora rareiam. A queixa é a mesma. "Os turistas são poucos, o negócio não é o mesmo sem eles", afirmam os sócios João Roque e António Silva.
A esperança é o próximo mês de março, para quando se prevê que aumente a chegada de visitantes internacionais assim a Páscoa comece a estar mais próxima no calendário e os barcos que percorrem o Douro retomem a atividade como o previsto e tragam mais clientes. "Será o mês da retoma. Aliás, começam a ver-se já alguns espanhóis e ingleses a circular, embora nada comparável com o que dantes sucedia", conta.
Caves de vinho do Porto sem visitas
O vinho do Porto sempre foi postal de Gaia. É lá que se concentram as centenárias caves deste néctar de fama mundial. As visitas eram muitas antes de 2020 e as compras também. A realidade mudou completamente. "O movimento durava todo o ano, de janeiro a dezembro. Havia turistas espanhóis, franceses, brasileiros, russos, das mais diversas origens. Isso tudo acabou", conta João Fernandes, que está à frente da loja Sogevinus, onde se vendem as marcas Barros, Kopke, Burmester e Cálem e se organizam deslocações guiadas às caves.
"Está a demorar a voltar ao normal e creio que será difícil retomar os números de 2019, que foi o mais forte de sempre", assinala. Os clientes portugueses, esses, rareavam e continuam a rarear. "Continuam a vir pouco cá. Notam-se mais visitas, sim, mas somente aos fins de semana", enquadra. Outro fator também não tem ajudado a que o Cais de Gaia seja destino frequente de passeio: "As obras no tabuleiro inferior da Ponte D. Luís limitaram bastante os acessos".
Depois dos melhores anos de negócio, com filas de pessoas à espera de mesa, vieram os piores. É raro alguém cá vir
Um pouco mais à frente, um dos restaurantes decanos de Gaia continua à espera de quem tarda a aparecer. Quase a completar 40 anos, a Casa Adão vive dias que nunca esperou. "Tivemos quebras superiores a 70%. Depois dos melhores anos de negócio, com filas de pessoas à espera de mesa, vieram os piores. É raro alguém cá vir", resume Adão Fernandes, o proprietário. "A minha esperança é que com a isenção de apresentação de testes à covid nos aeroportos os clientes internacionais regressem em força. Vamos ver...", desabafa. Uma esperança comum a todos os comerciantes do Cais de Gaia, que desde há dois anos esperam que os dias marcados pelo vazio acabem rapidamente