Alunos do primeiro curso privado do país elogiam ranking e "comunicação" da faculdade.
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"Como se sente, sr. António?", pergunta um médico a um paciente acamado. "Muito mal", responde o doente. Este seria um diálogo banal num hospital se o "sr. António" não fosse, na verdade, um robô. Será aqui, no Centro de Simulação Médica do Hospital da Luz, em Lisboa, que os 50 alunos do recém-criado curso de Medicina da Universidade Católica (UCP) - o primeiro privado do país - vão dar os primeiros passos rumo à profissão. Muitos poderiam entrar em qualquer universidade, mas escolheram esta. Uns pelas "portas" que ela pode abrir, outros por convicções religiosas.
Tomás, de 19 anos, seguiu Medicina por "vocação". Fala ao JN com luvas de látex sujas de uma tinta vermelha a simular sangue: "Estive a fazer um parto com a senhora Ana, que é um manequim", revela. "Estou a experienciar a vida real da forma mais próxima possível. Estou a adorar".
A nota mínima de entrada foi 17,4 e a média de Tomás foi superior. Assim sendo, porquê optar pelo curso privado, com propinas de 1625 euros por mês? "A UCP tem um "ranking" e professores muito bons", responde o jovem, natural de Salvaterra de Magos. Também elogia a componente prática do curso e o facto de este ser lecionado em inglês. "Isso abre muitas portas", refere.
estreia "não assusta"
Isabel, de 19 anos, fez todo o percurso escolar nos Salesianos de Évora. Crente, escolheu a Católica muito por causa dos avós: "Desde que se soube que o curso ia abrir, quiseram muito que eu viesse. Têm uma grande devoção à Nossa Senhora Auxiliadora, por isso é que andei nos Salesianos. E sinto que a UCP me deixa continuar esse percurso", afirma.
Isabel já tinha tentado entrar em Medicina em 2020, sem sucesso. Este ano, conseguiu ser aceite em Barcelona. Acabou por preferir a Católica, mas admite que o facto de este ser o ano de estreia do curso a fez hesitar.
"Não há alunos mais velhos para nos indicarem o melhor caminho ou darem-nos conselhos sobre professores. Isso deixou-me mais insegura", revela. Mas optou pela UCP por ter "muito melhor comunicação" e "por se preocupar com os alunos e famílias". E isso não ocorre noutras universidades? "Nas públicas não, pelo menos em Portugal".
Embora considere que os cursos públicos de Medicina "também são muito bons", Tomás teve menos dúvidas na hora de escolher. "O facto de este ser o primeiro ano não me assusta, porque a UCP está a fazer parcerias com universidades estrangeiras, como a de Maastricht", vinca. "Muito do que nos vão ensinar já foi dado noutras universidades. Isso tranquiliza-me".
Tomás tem um "fascínio" pela neurocirurgia e diz ser "plausível" vir um dia a trabalhar no estrangeiro. "Depende muito das condições". Isabel gosta de cardiologia, mas garante querer "aprender tudo". Questionada sobre se se vê a trabalhar fora de Portugal, recorda que podia estar hoje em Barcelona e não quis. Com um sorriso, deixa: "O meu país é mais importante!"
Vozes
Tomás Travassos, estudante de Medicina na UCP
"Escolhi a Católica por ter um ranking e professores muito bons. O facto de o curso ser dado em inglês também nos abre muitas portas"
Isabel Guerra, estudante de Medicina na UCP
"Não há alunos mais velhos para nos indicarem o melhor caminho ou darem-nos conselhos sobre professores. Isso deixou-me insegura"