Intervenção entre Águas Santas e Ermesinde devia ter ficado pronta em 2020. Autarcas revoltados. Não se vê ninguém a trabalhar mas Brisa garante que empreitada não está parada.
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Quando os Xutos e Pontapés lançaram a música "Longa se torna a espera", corriam os anos 80 do século passado, não estariam com certeza a pensar na A4. Mas o tema bem poderia ser a banda sonora das obras de alargamento do troço daquela autoestrada entre Águas Santas (Maia) e Ermesinde (Valongo), cuja conclusão, após várias derrapagens, tinha sido apontada para final de 2020. A Brisa admite agora, ao JN, que isso só acontecerá em dezembro de 2022. Mais um ano de constrangimentos no troço mais usado da A4, por onde passam 82 mil condutores todos os dias.
EXPLICAÇÕES EM 2022
Há meses que não se vê qualquer operário ou máquina a trabalhar na A4. A empresa afirma, contudo, que as obras não estão paradas. "Concluímos, no dia 31 de agosto, as obras de alargamento entre Águas Santas e Ermesinde. Está a decorrer a empreitada de reformulação do nó de Ermesinde", afirma a Brisa. A mesma empresa que, em junho passado, lançou um concurso público para a conclusão da construção e beneficiação de duas para quatro vias do sublanço Águas Santas/Ermesinde (empreitada que, agora, diz ao JN já estar pronta) e para a reabilitação dos túneis (antigos) de Águas Santas. É esta reabilitação que a Brisa anuncia para o próximo ano. Sem avançar mais pormenores. "Teremos oportunidade de explicar em detalhe o que vai ser feito durante 2022, no início do mês de janeiro", diz a resposta assinada pelo administrador executivo Manuel Melo Ramos.
Os presidentes das câmaras da Maia, de Valongo e de Gondomar deverão estar na primeira fila para ouvir as explicações. É que os três autarcas queixam-se que a Brisa não lhes dá qualquer informação sobre a obra, disparando críticas ao comportamento da empresa e ao atraso nos trabalhos. Até porque a empreitada, além da intervenção na A4, implica alterações nas redes viárias locais, que também estão por executar.
Apesar de a Brisa garantir que os trabalhos de alargamento estão concluídos, ao longo de todo o troço (e não só no nó de Ermesinde) continua a haver sinalização de obras, pinturas provisórias no pavimento, barreiras a delimitar a circulação e zonas onde é evidente que falta concluir a empreitada. Aliás, o túnel que foi construído permanece com a circulação condicionada, não tendo todas as faixas de circulação disponíveis.
EXIGIU REUNIÃO
Foi por ver que a intervenção estava encravada há muito tempo que o presidente da Câmara da Maia, António Silva Tiago, dirigiu-se à Brisa pedindo explicações e exigindo a realização dos trabalhos, não só na A4, mas também nos acessos e nas vias municipais. "É inadmissível!", indigna-se António Silva Tiago, não poupando críticas à empresa - "está a fazer tudo mal e com atrasos brutais -, e à administração central.
A reunião "in loco" com responsáveis da Brisa aconteceu "três ou quatro meses" antes das autárquicas, especificou o autarca. "A explicação que me deram [para a indefinição quanto ao avanço da obra] é que havia um conflito com o consórcio. Mas resolvam-no!", frisa Silva Tiago, que não exclui a hipótese da Câmara avançar para tribunal para exigir a realização dos trabalhos em falta.
O facto é que, desde essa reunião, o cenário na A4 mantém-se. E os constrangimentos agravam o cenário num troço de autoestrada já de si muito congestionado. As horas de ponta continuam a ser um martírio, com filas extensas e circulação a conta-gotas.
"INADMISSÍVEL"
"Apesar de a Brisa não ter dado quaisquer informações, esperamos que a obra seja retomada breve e que, no próximo ano, possa avançar a tão desejada ligação do nó da A4 para sul, até à Via Nordeste, que a Câmara está a construir", referiu Marco Martins, autarca de Gondomar.
"Esta situação é inadmissível e incompreensível", dispara o presidente da Câmara de Valongo. José Manuel Ribeiro lembra que também naquele concelho há obras na malha viária local por concretizar e contesta a falta de informação da Brisa às autarquias. "É um método de trabalho absolutamente miserável".
O autarca considera ainda que, apesar do alargamento melhorar a circulação na A4, não vai resolver o "garrote" da saída para Ermesinde/Águas Santas, que continuará congestionado. "Se fizermos as contas, serve entre 150 mil e 200 mil pessoas", adverte.
Apontamentos
60 mil veículos por dia
era o valor a partir do qual a Brisa era obrigada, contratualmente, a alargar a autoestrada de duas para quatro faixas de circulação. Atualmente, o trânsito médio diário já ultrapassa os 82 mil veículos.
43 milhões de euros
é o valor do investimento total apontado agora pela empresa. "O foco da Brisa é aumentar a capacidade da A4 e melhorar o serviço prestados aos seus utilizadores", diz a empresa, que também afirma não esquecer os moradores .
Longo processo
2009 Obra é anunciada, sendo feito o estudo de impacto ambiental.
2011 Em dezembro, é lançado o concurso público para a construção do túnel, a primeira fase da obra.
2013 Adjudicação da construção do túnel formalizada.
2015 Começam as obras do túnel, para ficar concluído em 2017. É anunciado que em novembro será lançado concurso para segunda fase: alargamento de duas para quatro vias. Obra iria ficar pronta em 2018.
2018 Com o novo túnel rasgado, obra fica parada. Brisa explica que início da segunda fase está dependente da decisão dos tribunais. Soares da Costa, que ganhou o concurso mas viu-lhe ser retirada a obra a favor do segundo classificado, contestou judicialmente. Em junho Brisa anuncia que tribunal deu-lhe razão e que obra deve começar em breve. Deveria ficar pronta até final de 2020.
2019 Novo túnel abre à circulação, de forma condicionada, o que se mantém.
2021 Não se veem trabalhos a avançar. Brisa garante que obra não está parada. Em junho, lançou novo concurso para a sua conclusão. Novo prazo para acabar: final de 2022.
Discurso Direto
José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo
"É inadmissível e incompreensível. Além disso, as obras não vão resolver o problema essencial que é o garrote da saída para Ermesinde"
Marco Martins, presidente da Câmara de Gondomar
"O atraso prejudica muito o acesso às zonas de Baguim, Rio Tinto e à Estrada D. Miguel. Causa transtornos diários a milhares de gondomarenses"
Silva Tiago, presidente da Câmara da Maia
"Os atrasos são brutais. Causam constrangimentos na A4, nos acessos e na envolvente, onde também há muitas obras por concluir"