O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, viu a sua vontade de celebrar o 25 de Novembro reprovada pela oposição, esta tarde de quarta-feira. O PCP apresentou e viu aprovado por maioria um voto de condenação em resposta ao anúncio das comemorações. Segundo o JN apurou, a celebração deverá realizar-se na mesma.
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Carlos Moedas anunciou, no seu discurso do 5 de Outubro, que a Câmara de Lisboa iria passar a ter todos os anos uma "grande iniciativa" de celebração do 25 de Novembro, mas tal comemoração não contará com o apoio da oposição.
Os vereadores do PCP, João Ferreira e Ana Jara, propuseram que a Autarquia se oponha “à intenção do Senhor Presidente da Câmara de Lisboa em comemorar o 25 de Novembro e a consequente tentativa de menorizar o 25 de Abril quando se assinalam 50 anos da Revolução”. O voto de condenação foi aprovado com os votos a favor do PS, BE, Livre e Cidadãos por Lisboa e os votos contra do PSD e CDS. Segundo fonte oficial da Autarquia, o voto "não deverá condicionar" as comemorações.
No voto de condenação apresentado pelo PCP, em resposta ao anúncio feito por Moedas , pode ler-se que “a anunciada intenção, mais do que assinalar uma data, constitui uma tentativa de menorizar a dimensão e significado da Revolução de Abril, das suas conquistas e valores, num momento em que se iniciaram as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril”.
“No passado dia 5 de Outubro, durante a cerimónia comemorativa do 113º aniversário da implantação da República, a cidade de Lisboa foi surpreendida com um anúncio feito pelo Presidente da Câmara: 'Aproveito para anunciar que para além da data histórica do 25 de Abril festejaremos também com uma grande iniciativa o 25 de Novembro', recordam os comunistas no documento.
Escrevem ainda que a intenção de comemorar o 25 de Novembro “transparece acima de tudo um incómodo com Abril, com a liberdade, a democracia e o progresso social que Abril nos trouxe, usando o 25 de Novembro e as falsificações que, a partir de determinados setores, a seu propósito se tornaram correntes para encobrir aqueles que não perdoam que os militares de Abril e o povo português tenham posto fim ao fascismo”.
"Susceptível de promover divisões"
Apesar de votarem a favor, os deputados do PS entregaram uma declaração de voto defendendo que “a proposta de comemoração, tal qual o sr. presidente apresentou, parece, aos vereadores do PS, suscetível de promover divisões que não existem na sociedade portuguesa e que estão a ser fabricadas artificialmente". Os socialistas sugerem ainda que sejam celebrados outros momentos como o pacto MFA-Partidos; as primeiras eleições livres universais; a conclusão dos trabalhos da Assembleia Constituinte; o próprio 25 de Abril de 76, e ainda “naturalmente, o 25 de Novembro ou 11 de Março”.
Questionado sobre se vai manter as comemorações, numa entrevista à SIC Notícias esta quarta-feira, Carlos Moedas respondeu que “sem dúvida” vai festejar. “Vou manter os eventos, quero homenagear os dois militares que foram mortos a tiro nessa altura. Temos de homenagear a título póstumo aqueles que morreram no 25 de novembro. Nunca foi feito na Câmara de Lisboa e isto não é de direita, nem de esquerda, é a democracia”, frisou Moedas, acrescentado que compreende que a oposição “não está contente” e que “de maneira nenhuma” queria provocar a Esquerda com este anúncio.
“O 25 de novembro é a nossa democracia, ou seja, a liberdade que ganhámos no 25 de Abril. A democracia em Portugal solidifica-se, mas isto não é contra o 25 de abril. Estranho que a esquerda esteja a radicalizar-se e a esquerda moderada e centrista do Partido Socialista está a deixar levar-se pelos extremistas, a extrema-esquerda. Fico chocado que se tenha feito esta clivagem”, concluiu.