Não voltou ao trabalho nem consegue pegar no neto: perdeu toda a sensibilidade num braço.
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Cidália Martins, 57 anos, foi brutalmente atacada em fevereiro do ano passado por dois cães de raça potencialmente perigosa, quando corria, em Alenquer. A atleta campeã nacional de trail ficou com o braço esquerdo mutilado e hoje sofre de stress pós-traumático. Não voltou ao trabalho, na direção de um agrupamento de escolas em Alenquer, não consegue pegar ao colo o seu neto bebé, nem sai de casa sozinha.
A 12 de fevereiro, Cidália saiu para mais um treino. Na Rua dos Melos, uma zona por onde a cinco vezes campeã nacional de trail costumava passar, dois cães de raça cane corso atacaram-na, um em cada braço, lançando-a ao chão. O ataque durou 15 minutos, sem que se pudesse defender.
Um casal que reside a um quilómetro ouviu os gritos e foi em socorro. Enfrentou os cães com uma chave para mudar pneus e conseguiu parar o ataque. O marido da vítima, José Martins, chegou logo a seguir e encontrou a mulher à beira da morte. "Ela foi arrastada 27 metros, tinha 40 pulsações por minuto, estava a esvair-se em sangue e teve que ser reanimada duas vezes até ir ao hospital".
Cidália deu entrada no Hospital de São José, em Lisboa. José Martins conta que "o médico que atende os politraumatizados neste hospital disse que nunca viu lesões tão graves em alguém ainda vivo". Cidália recebeu cinco transfusões de sangue e ficou internada. Não perdeu o braço, que foi enxertado com carne da perna da atleta, mas perdeu toda a sensibilidade. "O braço esquerdo estava pendurado por um nervo, os cães quando regressaram a casa ainda iam com carne dela", diz.
Cidália não fala sobre o episódio. "Ela foi diagnosticada com stress pós-traumático, perdeu toda a capacidade no braço esquerdo e está a ser seguida no Hospital São José, tanto a nível psicológico como de recuperação", conta.
Os donos dos cães, um militar da GNR e a sua companheira, já tentaram falar com a vítima, mas José Martins diz que as suas intenções não são boas. "Já houve uma tentativa de abordagem, mas para tentar branquear a situação, nunca houve qualquer pedido de desculpa". No dia do ataque, refere, "a dona dos cães chegou a perguntar o que ela fez para ser atacada e ele apresentou uma postura intimidatória, apresentando-se como militar da GNR".
O caso está a ser investigado pelo Ministério Público de Alenquer, sem conclusão por agora. A vítima já foi observada pelo Instituto de Medicina Legal a pedido do MP.