Nem Luís Montenegro, nem Jorge Moreira da Silva: mais de metade dos portugueses não tem opinião sobre qualquer dos dois candidatos à liderança do PSD, segundo um estudo da Aximage para JN/DN/TSF.
Corpo do artigo
Uma situação que se pode dever à fraca mediatização da campanha das diretas de amanhã. A candidatura do ex-ministro reconhece o problema da mediatização e admite ter sido prejudicada. Já a do ex-líder parlamentar desvaloriza e considera que a mensagem chegou a quem interessa: os militantes.
Segundo o estudo da Aximage, feito com base em 805 entrevistas de norte a sul do país e ilhas, 58% dos inquiridos manifestaram não ter qualquer opinião sobre qual dos dois candidatos nas diretas será o melhor sucessor de Rui Rio na liderança dos sociais-democratas. Uma percentagem que atinge os 62% nos arquipélagos, os 68% no eleitorado feminino e os 62% na faixa etária entre os 18 e os 34 anos.
Falta de mediatização
"Quanto mais mediatismo tivéssemos, mais votos alcançaríamos. A falta de mediatismo na campanha prejudicou-nos", admite Carlos Eduardo Reis, recordando que Jorge Moreira da Silva partiu para o terreno com atraso face ao seu adversário, que já estava em campanha e foi candidato nas diretas de 2020. "Uma coisa é um atraso de semanas, outra é recuperar um atraso de anos. É natural que tenha feito uma série de contactos, os tais almoços e jantares", refere o diretor da campanha do ex-ministro do Ambiente, acreditando, contudo, que "os militantes são competentes para decidir qual é o melhor protagonista para esta travessia de quatro anos" que o PSD enfrenta.
E é precisamente com base no universo eleitoral das diretas de sábado que a candidatura de Luís Montenegro desvaloriza a fraca mediatização da campanha e o seu impacto junto dos portugueses, em geral.
"A campanha é sobretudo dirigida aos militantes e esses foram todos contactados. Luís Montenegro esteve em todos os círculos eleitorais. O universo eleitoral está perfeitamente esclarecido", sustenta Carlos Coelho, diretor da campanha do ex-líder parlamentar.
Ausência de debates
Numa campanha morna, apenas aquecida pela ausência de debates televisivos, Carlos Coelho admite: "Era desejável que tivesse havido debates". Mas refere que seriam mais benéficos para Jorge Moreira da Silva porque lhe poderiam dar "projeção em locais onde não conseguiu ir".
Na sondagem feita pela Aximage para JN/DN/TSF, apenas 24% dos inquiridos admitem que votariam, em legislativas, num PSD liderado por Jorge Moreira da Silva. Já 41% votariam num PSD de Luís Montenegro.
"Não haver debates é trair a essência da política. Além de que mediatizariam a campanha. Perdemos essa oportunidade", contrapõe Carlos Eduardo Reis.
O fraco entusiasmo motivado pelos dois candidatos à sucessão de Rui Rio - que foi reeleito líder do partido em novembro passado com 53% dos votos - torna-se mais evidente ao nível da abstenção, uma vez que 74% dos inquiridos não se manifestaram motivados para votar, em legislativas, com um PSD liderado por Jorge Moreira da Silva ou Luís Montenegro.
Moreira da Silva cativa maioria dos apoiantes de Rui Rio
Seis meses depois, duas candidaturas às diretas voltam a dividir o PSD entre aparelho e bases, com Jorge Moreira da Silva a colher mais apoios de notáveis do partido e entre aqueles que sempre estiveram com Rui Rio. Mas Luís Montenegro é esmagador junto das distritais e consegue atrair também personalidades conotadas com o líder dos sociais-democratas.
A proximidade de Jorge Moreira da Silva com a fação de Rui Rio levou o vice-presidente do partido, Salvador Malheiro, a vir a público garantir, por três vezes, que não apoia qualquer candidato. Mas também fez com que Ribau Esteves, autarca de Aveiro, que ponderou entrar nesta corrida, assumisse o desejo de o apoiar.
São, porém, mais os nomes da "máquina" que deu a vitória a Rui Rio nas diretas de 27 de novembro que estão ao lado do ex-ministro do Ambiente. É o caso de João Montenegro, Carlos Eduardo Reis (diretor da campanha de Moreira da Silva), André Coelho Lima (vice de Rio), António Tavares, Joaquim Miranda Sarmento (coordenador da moção) e a antiga líder do PSD Manuela Ferreira Leite.
"É uma mulher corajosa, mostrou essa coragem e esse desassombro como líder do PSD e membro do Governo", disse Moreira da Silva, ao garantir o apoio da antiga titular das Finanças.
De Maduro a Balsemão
O ex-diretor da OCDE conseguiu ter também ao seu lado nomes de notáveis como o de Francisco Pinto Balsemão (militante n.o 1, fundador do partido e seu mandatário nacional), além do passista Miguel Poiares Maduro, que coordenou a moção de Paulo Rangel nas diretas de 2021.
O ex-ministro conta ainda com Carlos Costa Neves (ex-apoiante de Rangel), Silva Peneda, Fernando Negrão, Ângelo Correia e João Bosco Mota Amaral.
Com Açores e madeira
Mas são poucas as bases que escolheram ficar ao lado de Jorge Moreira da Silva. A esmagadora maioria das distritais (15 em 19) estão com Luís Montenegro, incluindo as que reúnem maior número de militantes aptos a votar amanhã, como Porto, Braga, Lisboa, Aveiro, Viseu, Leiria e Coimbra.
O ex-líder parlamentar tem também consigo as estruturas dos Açores e da Madeira, atraindo nomes como Alberto João Jardim, Miguel Albuquerque (que é o seu mandatário nacional) e José Manuel Bolieiro. Montenegro cativou, inclusive, rostos próximos de Rui Rio, como o do cabeça de lista por Portalegre nas legislativas de janeiro, João Pedro Luís, que é o seu mandatário da juventude, além de Clara Marques Mendes.
Com o antigo eurodeputado Carlos Coelho como diretor de campanha, Montenegro foi buscar ainda apoios à fação de Rangel, como o de António Leitão Amaro.
Pormenores
Das 14 às 20 horas
A 11.º eleição direta que vai escolher o 19.º presidente do PSD decorre amanhã, entre as 14 e as 20 horas, em 23 estruturas do partido.
Disputas a dois
Esta será a quarta vez que as diretas vão ser disputadas entre dois candidatos: em 2007, entre Marques Mendes e Luís Filipe Menezes; em 2018, entre Rui Rio e Santana Lopes; em novembro de 2021, entre Rui Rio e Paulo Rangel.
Congresso em julho
Depois das diretas, os sociais-democratas reúnem-se em congresso para eleger os órgãos nacionais. O 40.º conclave realiza-se no Porto entre os dias 1 e 3 de julho.