Foi como um terramoto. Na noite das legislativas, o PSD passou de uma situação de ambicionar o poder para precisar de se recriar. O estado do partido levou os dois candidatos à liderança, nas diretas deste sábado, a traçar um plano de revitalização. Mas será que o legado de Rui Rio é assim tão negro? "Deixou o partido numa situação perfeitamente recuperável", crê o politólogo José Palmeira. Os candidatos Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva concordam.
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Nem Jorge Moreira da Silva nem Luís Montenegro falam muito no legado de Rui Rio nas moções que levam ao congresso de 1, 2 e 3 de julho, no Porto. Os candidatos à liderança do PSD, nas eleições diretas deste sábado, preferem olhar para o futuro e traçar o que entendem que deve ser feito para o partido voltar a ambicionar o poder em 2026.
O certo é que até ao dia das eleições legislativas, o PSD de Rui Rio surgia nas sondagens empatado com o PS de António Costa. O atual líder dos sociais-democratas chegou a admitir que já tinha a composição do Governo na sua cabeça. Mas, na noite de 30 de janeiro, deu-se o terramoto. E o PSD nem conseguiu os mínimos: impedir uma maioria absoluta socialista.
"O PSD foi muito marcado pelo tempo da troika. Rui Rio teve um papel difícil de recuperar a imagem de um partido que, supostamente, queria ir muito além do que a troika exigia", recorda o especialista em Ciência Política da Universidade do Minho, José Palmeira.
Ainda assim, José Palmeira não esquece os resultados positivos alcançados por Rui Rio nas regionais dos Açores e, sobretudo, nas eleições autárquicas. "Apesar de tudo, o PSD conseguiu recuperar o voto do eleitorado urbano e chegou a um ponto em que se admitia a possibilidade de vir a ganhar as legislativas", sublinha, apontando a vitória na Câmara de Lisboa e noutras capitais de distrito.
Embora sempre crítico da liderança de Rui Rio, o candidato Luís Montenegro concorda. Na moção Acreditar, coordenada por Joaquim Miranda Sarmento, admite: "As últimas eleições regionais e autárquicas deram sinais encorajadores da recuperação do PSD em todo o território nacional".
Reconquistar terreno à direita
"É como olharmos para um copo. Podemos dizer que está meio vazio ou meio cheio", refere José Palmeira, destacando: "Pedro Passos Coelho deixou um partido em risco de deixar de ser importante nos centros urbanos. Certamente Rui Rio não foi um líder perfeito, porque tem uma personalidade difícil de gerar consensos. Mas, apesar de tudo, Rui Rio deixou um partido com dimensão nacional. Deixou um partido com credibilidade. Não caiu na tentação de transformar o PSD num partido populista, para atrair os descontentes. Apesar de tudo, das várias guerras internas, o partido não se desfez".
Por isso, aquele politólogo acredita que é possível reconquistar terreno junto das alternativas à direita, como a Iniciativa Liberal e o Chega. "Rui Rio deixou o partido numa situação recuperável. Tem todas as condições para se vir a apresentar como alternativa", crê.
No fundo, os dois candidatos à liderança concordam. Na sua moção, Luís Montenegro garante: "O PSD tem plenas oportunidades para construir uma nova ambição para Portugal". Já Jorge Moreira da Silva, que se propõe a refundar o partido na sua moção "Direito ao Futuro", está confiante na possibilidade de se criar "uma sequência vitoriosa em todas as eleições para os próximos quatro anos".
Para tal, o ex-ministro defende que é necessário que o partido se apresente unido. O primeiro teste será na discussão e votação da eutanásia, em que o PSD estará com um líder eleito (o vencedor das diretas) e um líder em funções, com uma posição favorável à despenalização da morte medicamente assistida ao contrário de Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva.
Será assim durante um mês, até ao encerramento do congresso do Porto. Mas José Palmeira acredita que o novo líder e Rui Rio saberão ser "contidos". "O PSD já tem demasiados problemas para querer acrescentar mais um", justifica.