Muitos agrupamentos de escolas também deixarão de ter horários de entrada desfasados. Regras de funcionamento mantêm-se, mas diretores têm autonomia para decidir alterações.
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A esmagadora maioria das escolas vai deixar de servir refeições takeaway aos alunos, assinalam o presidente da Associação de Dirigentes Escolares (ANDE) e o vice-presidente da Associação Nacional de Diretores (ANDAEP). A modalidade, criada para reduzir a lotação nos refeitórios e assim o risco de contágio da covid-19, foi uma aposta há um ano, mas teve avaliação negativa e acabou por ser abandonada.
Os horários de funcionamento das cantinas vão manter-se alargados para garantir o distanciamento, contudo, a prioridade é que os alunos almocem nas escolas. Outra medida que pode deixar de ser aplicada em muitos agrupamentos é o desfasamento dos horários.
"Esse serviço [de takeaway] não resultou. Os alunos juntavam-se em cantos a socializar com as caixas dos almoços. É preferível tê-los nas cantinas, onde sabemos que as regras são cumpridas. Este ano não é uma aposta sequer", garante o presidente da ANDE, Manuel Pereira. A partir de amanhã e até sexta-feira, arranca o ano letivo. Será o terceiro marcado pela pandemia. Turmas e horários ainda estão a ser ultimados e, na maioria dos agrupamentos, as aulas arrancam dia 17.
Sem novas orientações do Ministério da Educação, as regras de funcionamento definidas nos planos de contingência mantém-se: máscaras obrigatórias, álcool-gel à entrada dos estabelecimentos e das salas de aula, circuitos desenhados no chão, uma sala preferencial para cada turma que deve funcionar "em bolha".
"É mais importante tirar as máscaras no recreio ou trabalhar para evitar novos confinamentos? As opções são estas e parece-me crucial que não voltemos a fechar escolas, porque foi uma tragédia", defende David Sousa, vice-presidente da ANDAEP.
Outra medida que mereceu avaliação negativa dos diretores foi o desfasamento dos horários. "As entradas constantes causavam imenso burburinho nos corredores e perturbavam as aulas", explica Manuel Pereira. David Sousa acrescenta que a estrutura de muitas escolas já permitia a separação, nos intervalos entre alunos mais velhos e mais novos e que a medida não se revelou eficaz.
Atritos por causa de máscaras
O abandono do takeaway é bem aceite pela Confederação Nacional de Pais (Confap). O dirigente Alberto Santos garante que a solução chegou a criar "situações desagradáveis" por as escolas não terem espaços para os alunos comerem estas refeições, antes de irem para casa, por exemplo, sendo que muitos ATL também não permitiam aos alunos que comessem nas suas instalações. "Se antes da pandemia, para muitos alunos, o almoço na cantina era a única refeição quente do dia, agora pode ser ainda para mais. Essa função social deve ser acautelada e defendida pelas escolas", frisa Alberto Santos.
Já o fim dos horários desfasados causa "alguma apreensão" aos pais. "Ainda não estamos no pós-pandemia", sublinha.
O fim da obrigatoriedade do uso das máscaras em espaços públicos, ainda que "fortemente recomendado" nos recreios é para a Confap "uma falha de comunicação" da DGS que pode vir a gerar "atritos desnecessários nas escolas". Alberto Santos receia que possam surgir pais que recusem a imposição das máscaras nos recreios determinada pelos diretores. Para a Confap, tal como para os diretores, assegurar um ano letivo integralmente em regime presencial é o principal objetivo.
Educação Física
Já não faz sentido proibir banhos
O presidente do Conselho Nacional das Associações de Profissionais de Educação Física e Desporto (Cnapef) considera que podiam ser suspensas algumas regras impostas no ano passado à disciplina, como o distanciamento mínimo de três metros entre os alunos e a proibição de se tomar banho após as aulas. "Já não faz sentido", defende Avelino Azevedo. "Os professores de Educação Física estão muito limitados na planificação que podem fazer", assegura, defendendo que o Ministério da Educação e a Direção-Geral da Saúde deviam ter atualizado as orientações. Os alunos, recorde-se, não têm de usar máscaras nas aulas de Educação Física, mas deixaram de poder tomar banho. Bolas e material devem ser higienizados após cada turma. Nas recomendações enviadas às escolas há um ano pela Direção-Geral de Educação, os professores devem privilegiar atividades individuais ou em grupos reduzidos, em que seja possível o distanciamento "de, pelo menos três metros" entre os alunos. "Neste contexto de regresso progressivo à normalidade, está um vazio, e devia adaptar-se algumas regras", insiste Avelino Azevedo.
O JN questionou ME e DGS sobre a publicação de novas orientações, mas não recebeu resposta.