A iniciativa de luta por "valorização da carreira e melhores condições de trabalho" arranca esta segunda-feira e estende-se até 30 de maio, entre Chaves e Faro.
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Rosa Pessoa vai estar, esta segunda-feira, no marco do quilómetro zero da Estrada Nacional 2 (EN2) para o arranque da caravana de professores por esta via, que ao longo de quase 740 quilómetros liga Chaves a Faro. É mais uma iniciativa de luta "pela profissão docente e pela escola pública". Exigem "respeito, valorização da carreira e melhores condições de trabalho".
Rosa é professora há 35 anos e, atualmente, leciona, no Agrupamento de Escolas Dr. António Granjo, em Chaves. Vai participar nesta caravana contra a "falta de respeito do Governo pelos professores". Diz estar no "meio da carreira" e que já "não há hipóteses de chegar ao topo". À lista do descontentamento acrescenta "a retirada do tempo de serviço" e a "muita burocracia na escola". "A educação neste país está ao Deus dará", frisa a docente de 58 anos, que pretende ir de carro na caravana apenas até Lamego, que é quanto permite o tempo livre disponível.
António Chaves é docente há 37 anos e também se queixa de ser "desrespeitado pelo Ministério da Educação", por "não querer ouvir os professores" e manter uma "atitude muda e cega perante o que se passa nas escolas". Mas António não deve conseguir participar na caravana pela EN2 "por não ter dias livres".
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Apesar disso, vai estar de "alma e coração" com os colegas que o puderem fazer. "Acho que a iniciativa vai dar mais visibilidade à nossa luta e mostrar que os professores não desistem enquanto não virem satisfeitas a maioria das suas reivindicações", acentua o docente de 61 anos, coordenador da Escola Básica de Santa Cruz, em Chaves.
Uma greve e duas manifestações
"Não desistimos de lutar porque é justo", sublinhou secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, em Chaves, onde foi apresentar a iniciativa que envolve várias outras organizações sindicais.
A caravana pela EN2 antecede o 6-6-23, "dia de greve nacional e de duas manifestações", pelos "seis anos, seis meses e 23 dias" de tempo de serviço que os professores querem ver repostos na íntegra até ao final da atual legislatura, em 2026.
"Poderá ser um dia histórico, ou porque temos uma greve como nunca se viu, ou porque temos uma manifestação no Porto, de manhã, e outra em Lisboa, à tarde, como também nunca se viram", vincou o secretário-geral da Fenprof. Ressalvou, todavia, que o 6-6-23 também pode ser histórico se for, finalmente, "assinado um acordo que reconheça os seis anos, seis meses e 23 dias", que podem ser recuperados "faseadamente, por etapas".
Segundo Mário Nogueira, os sindicatos "querem negociar com o Ministério da Educação quais as etapas da recuperação do tempo de serviço", mas em cima da mesa estão ainda questões como "a estabilidade dos professores, a aposentação e a mobilidade por doença". O dirigente sindical sublinhou ainda a possibilidade da greve às avaliações e aos exames, "se o senhor ministro da Educação e o Governo continuarem a ser irresponsáveis como têm sido até agora".
A partida da caravana, no dia 22 de maio, do marco do quilómetro zero da EN2, em Chaves, simboliza "os zero dias que estão a ser recuperados do tempo que falta na carreira" e "o zero também corresponde, mais ou menos, à capacidade do senhor ministro da Educação para resolver os problemas das escolas e dos professores".
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Encontros com colegas e pais
Pelo caminho, até Faro, a caravana vai integrar uma carrinha com um painel alusivo à luta de professores e educadores. Será acompanhada por vários destes profissionais com carros, motas e bicicletas. Está ainda previsto um conjunto de atividades com os professores em várias vilas e cidades atravessadas pela EN2, nomeadamente plenários.
Mário Nogueira admitiu que a adesão para percorrer a EN2 não será muito elevada, já que "os colegas têm aulas" e "não há pré-aviso de greve para a caravana". Contudo, nos sítios de paragem, sempre à hora do almoço e ao final do dia, "haverá pequenas concentrações com colegas para os mobilizar para a greve do dia 6 de junho" e momentos para "entregar uma mensagem à população, nomeadamente, aos pais e encarregados de educação".
Para o dia 10 de junho está prevista a presença de um grupo de professores na cidade da Régua, onde vão decorrer as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. "Não vamos lá fazer nenhuma confusão, mas levaremos os nossos símbolos e as placas de 'respeito"". No dia 1 de agosto, também vão marcar presença no arranque da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa. Mário Nogueira explicou que vão estar lá muitos jovens a quem querem dizer que sabem que "querem ser professores, mas fogem da profissão porque sabem a desvalorização que existe".