A Federação Nacional da Educação é a segunda mais representativa de professores e funcionários não docentes e este domingo elege um novo líder: Pedro Barreiros quer uma FNE mais presente nas escolas e mais interventiva. Na linha da frente da contestação às políticas educativas. Promete não desistir da recuperação do tempo de serviço.
Corpo do artigo
O atual vice-secretário-geral e presidente do Sindicato de Professores da Zona Norte tem conduzido as últimas negociações com o Governo pela FNE. Em declarações ao JN, assume que a luta intensa dos professores quase desde o arranque do ano letivo, que "ninguém perspetivava há um ano", se tem traduzido em conquistas "muito poucochinhas". Ainda assim, garante, "acredita" que um dia a classe vai conseguir recuperar o tempo de serviço ainda congelado.
"Acredito e não desisto. Não vamos desistir. Não sei se será com este primeiro-ministro. Não sei se será com este Governo. Não sei se será com o próximo, até porque não sei qual será o próximo, a sua composição ou disponibilidade. Mesmo assim não vamos desistir", promete.
Pedro Barreiros sucede a João Dias da Silva que esteve à frente da FNE desde 2004 e negociou com oito ministros da Educação. O congresso está a decorrer em Aveiro, sob o mote "Por carreiras dignificadas e atrativas". Será aprovada a proposta de resolução de adesão, "em massa", à greve e manifestação agendada para 6 de junho. Até final do ano letivo, a FNE participará, em convergência ou sozinha, em ações de contestação à política educativa deste Governo. Isso pode incluir exames e classificações finais mas também desde já, sublinha, o arranque do próximo ano letivo.
"Milhares" recusaram concorrer
O ministro, refere Pedro Barreiros, "nunca deu expectativas quanto à recuperação do tempo de serviço" mas deu outras expectativas que têm saído goradas como a mobilidade por doença.
"Numa altura em que há falta de professores não se compreende esta desvalorização, obrigando as pessoas a ter de concorrer para todo o país, ao contrário do anunciado combate à casa às costas", defende, garantindo que o novo diploma de concursos vai obrigar os professores a mais deslocações, passando os docentes a ter de viver "de mochila às costas".
O concurso para a vinculação dinâmica, que terminou ontem, obriga os docentes, frisa, para conseguirem entrar nos quadros terem de aceitar concorrer, no próximo ano letivo, para todo o país. "Não estamos a falar de pessoas jovens mas de pessoas já com alguma experiência e tempo de serviço que vão ter de refazer todas as suas vidas. Sei que houve milhares de candidatos que optaram por não concorrer porque não querem ir de Bragança para Lagos ou para a Amadora", afirmou.
Por o ai significar que nos novos 63 quadros, os professores possam estar de manhã numa escola, à tarde noutra a 20 ou 30 quilómetros e no dia seguinte igual".
"Há um discurso que ouvimos de forma repetida de que está tudo bem, mas o que se verifica no dia a dia é que as escolas estão em estado de total ebulição. O desconforto é enorme. As pessoas querem abandonar a profissão, se há falta de professores não é desta forma que se vai combater esse problema", garante.
Presença nas salas de professores
Pedro Barreiro é professor de Educação Visual e Tecnológica mas não dá aulas desde 2010. Tem 49 anos, 26 de serviço, passou por escolas de Chaves, de onde é natural, Braga, Vieira do Minho ou Cabeceiras de Basto, e está no 5.º escalão da carreira. Tem dois filhos e é casado com uma professora.
"Nunca deixei de ir às salas de professores. É assim que se faz sindicalismo: ouvir para perceber e depois poder agir", afirma. Defende a revisão da formação inicial e contínua de professores para que os docentes sejam melhor preparados, não só pedagogicamente mas também para responderem à indisciplina crescente e aos alunos "que vieram diferentes da pandemia". Também reivindica mais tempo e menos alunos para que os professores se consigam concentrar no ensino e não estejam assoberbados com "tarefas inúteis" burocráticas. Quanto à FNE, quer tornar a federação mais interventiva e "mais próxima", "cheia de atividades, não só reivindicativas mas também de formação e informação" em todos os ciclos de ensino, incluindo Superior, setor privado e profissional. Por outro lado, insiste, os novos conselhos de quadros de zona pedagógica vão permitir aos diretores atribuírem horários a professores de quadro em agrupamentos diferentes. "Isto vai significar que nos novos 63 quadros, os professores possam estar de manhã numa escola, à tarde noutra a 20 ou 30 quilómetros e no dia seguinte igual".