Dono de transportadora faliu, perdeu a visão e o fogo levou-lhe a casa.
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O ano de 2017 vai ficar marcado para sempre como o pior das vidas de Carmen Rocha e Paco Alonso, ambos com 78 anos de idade. O casal atravessou "o inferno". Senão veja-se: a empresa de transportes de Paco, próspera durante 20 anos, faliu; o empresário ficou cego por causa da diabetes e, para culminar, o fogo roubou-lhe a casa num domingo que tinha tudo para ser feliz. "Estávamos a almoçar com um dos nossos filhos, a mulher e um neto. Ouvimos gritar lá fora. Saímos e já o fogo estava muito perto. Escapámos. Não deu tempo de nada", conta Carmen: "Se fosse de noite, já não estávamos aqui".
A casa com dois andares, onde Paco nasceu e viveu toda a vida, ficou apenas com as paredes em pé e o casal com a roupa que trazia no corpo. "Eu quando vi aquele fogo todo, pensei que era o fim do Mundo. Os antigos diziam que o Mundo ia acabar em fogo e naquele momento foi o que pensei", recorda a mulher.
O empresário, agora invisual, descreve a aflição que sentiu: "Não via o fogo, mas recordo o barulho e o calor que fazia. Era um inferno". Um momento que foi o culminar de uma fase negra, que começou com o descalabro financeiro da sua transportadora. "Num ano, perdi tudo. Primeiro os veículos, depois os olhos e logo depois veio isto da casa", lamenta.
Carmen procura desdramatizar: "Sobramos nós, os nossos filhos e os nosso netos". E Paco reforça, sublinhando a ajuda que receberam após o trágico 15 de outubro. "Nunca pensei que a gente fosse assim tão solidária. Há pessoas de quem não se esperava nenhuma ajuda e ajudaram".
Instalado hoje num apartamento alugado no centro da vila de As Neves, o casal, com 50 anos de matrimónio, procura a todo o momento focar o lado positivo do drama que lhes tocou viver. "A casa é mais pequena, mas fácil de limpar, e temos tudo perto. A padaria, o médico, o centro dos voluntários. É confortável. O futuro logo se verá", diz Carmen Rocha.