Vila de As Neves, com quatro mil habitantes, situada junto ao rio Minho, foi varrida por "vendaval" de fogo vindo de Portugal a 15 de outubro. Incêndio atingiu 90% do território e deixou poços e rio contaminados.
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O provérbio "De Espanha, nem bom vento nem bom casamento", alusivo a matrimónios menos bem sucedidos e aos ventos de leste, desagradáveis no inverno e quentes e secos no verão (suão), que chegam a Portugal, tem muito que se lhe diga para os habitantes de As Neves, na Galiza. Depois de 15 de outubro de 2017, o dito popular bem pode ser invertido, pelo menos no que toca a ventanias. Nesse domingo, a pequena povoação com cerca de quatro mil habitantes, situada a seis quilómetros do rio Minho, viu o inferno chegar de repente. Do outro lado do rio, as freguesias de Bela e Barbeita, em Monção, ardiam descontroladamente e um vento ciclónico transportou o fogo sobre as águas, ateando na vila o maior incêndio da sua história.
Cerca de 90% do seu território foi varrido pelas chamas (cinco mil hectares), deixando quatro famílias desalojadas e destruindo 46 segundas habitações e três empresas. E reduziu todo o verde a negrume e cinza. Na altura, toda a região estava tomada por incêndios, que mataram quatro pessoas. O Governo da Galiza foi acusado de falhar na defesa das populações. Milhares saíram à rua em Vigo para uma manifestação com o lema "Lume nunca mais".
"O fogo cruzou o rio Minho. Já ardia há dois dias em Portugal e no domingo de manhã (15 de outubro) começamos a ver o incêndio a aproximar-se muito do rio e a chegarem aqui faúlhas. Foi avisado o Medio Rural (departamento competente na Junta da Galiza), mas não tomaram nenhuma medida preventiva e, às 13.45 horas (12.45 horas em Portugal), o fogo passou. Os ventos eram tão fortes que o fogo voou", contou ao JN Óscar Gonzalez, "concelleiro" (espécie de vereador) em As Neves.
"Somos "a zona zero" dos incêndios na Galiza. Fomos o concelho mais afetado. O fogo passou por quase todo o território", lamenta o "concelleiro", referindo que, desde a primeira hora, As Neves começou a reerguer-se graças a um exército de voluntários e doações de centenas de particulares e de cerca de 50 empresas espanholas e portuguesas. "Água, comida para animais, materiais, veio de tudo o que era necessário. Não tivemos espaço para tanta coisa", disse.
A distribuição porta a porta de água engarrafada prolongou-se até três meses após o "vendaval de fogo", que destruiu canalizações e deixou poços e captações no rio contaminados. Escorrências negras que ainda hoje, quando chove, entram pelas casas, obrigando a intervir de emergência.
Os primeiros apoios para aluguer de casas concedidos pela Junta da Galiza chegaram em maio. Falta ainda a ajuda à reconstrução das habitações, propriedades, empresas e estruturas públicas destruídas ou danificadas.
O "centro de operações" do voluntariado mantém-se ativo. Rosa Sanchez e Rebeca Bañuelos, desempregadas, multiplicavam-se estes dias em contactos para organizar um ato público de agradecimento a todos os que deram a mão a As Neves, com lançamento de um livro de fotografia (14 fotógrafos) que ilustra o estado em que o território ficou. "O Concello criou a estrutura, mas se não fosse o grupo de voluntários nada disto seria possível. Foram mais de 100 pessoas a trabalhar", comenta Óscar Gonzalez.
A paisagem recupera lentamente. Foram replantadas duas mil árvores autóctones. Do lado de Monção, o parque habitacional destruído continua em cinzas. Apenas uma habitação, das cinco que ficaram destruídas, foi reconstruída pela proprietária, que avançou a expensas próprias. Falta o apoio do Governo.