Recém-nascidos prematuros são aqueles que mais precisam.
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São mais de 150 os bebés que, por ano, são alimentados através de leite materno doado. O banco de leite de Lisboa recebe entre 300 e 450 litros de leite anualmente. A unidade de doação de leite materno do Hospital de São João, no Porto, foi inaugurado em setembro e já alimentou 30 recém-nascidos. A Carminho é um desses bebés.
Foram 33 semanas atribuladas até à chegada da menina. Entre as inúmeras consultas de vigilância, o dia a dia de Fátima Costa era vivido em repouso absoluto. Às 32 semanas, foi internada no Hospital de São João, no Porto. Uma semana depois, a 27 de abril, chegava a pequena Carminho. De urgência e de cesariana. Prematura e com apenas 1,480 quilogramas. "Foi tudo muito rápido. Só me disseram que estávamos a correr risco de vida. E mal a tiraram de mim, levaram-na logo para a incubadora. Nem sequer a vi", recorda a mãe Fátima Costa ao JN.
Diminui risco de doença
Os bebés prematuros são os recetores de eleição para o leite humano de dadora pasteurizado, como explica a neonatologista Susana Pissarra. No entanto, outros recém-nascidos também podem beneficiar deste alimento, como, por exemplo, bebés com patologia digestiva ou de baixo peso ao nascimento. Em Portugal, existem dois bancos de doação de leite materno: um na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, e outro no Hospital de São João, no Porto.
Depois do parto, Fátima e Carminho estiveram separadas quatro dias. Foi nessa altura que, na impossibilidade de ser amamentada pela mãe, surgiu a possibilidade da bebé ser alimentada com leite materno doado. "Fiquei muito satisfeita. Não podendo amamentar, achava que aquela era a opção mais indicada para aquele momento", assume.
"O leite de dadora nunca é um substituto do leite de mãe, é sempre um complemento", ressalva a neonatologista. E as doações de leite permitem oferecer os benefícios de uma dieta exclusivamente humana, que diminuem o risco de doenças e infeções. "É uma mais-valia muito grande na abordagem destes recém-nascidos", garante a médica.
40 dadoras no Porto
O leite doado, ao banco do Hospital de São João, ajudou a Carminho nas duas primeiras semanas de vida. Embora Fátima soubesse que existia essa possibilidade e que seria uma opção segura, nunca prestou muita atenção. "Só damos realmente importância quando necessitamos", sublinha.
Desde que o banco de doação de leite materno do Hospital de São João foi inaugurado, em setembro de 2022, já foram recrutadas mais de 40 dadoras. Ao banco da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, chegam entre 300 e 450 litros de leite doado anuais, o que permite ajudar cerca de 150 bebés por ano.
"A população portuguesa é muito generosa e só não há mais procura por potenciais dadoras porque há falta de informação", declara Susana Pissarra. Para já, o processo de recrutamento no centro hospitalar portuense estende-se, apenas, a dadoras que vivam a menos de 30 quilómetros do Porto. "O facto de outras mães darem aos nossos filhos aquilo que não podemos, é um gesto muito bonito", sublinha Fátima Costa, acrescentando que, se um dia tiver essa oportunidade, retribuirá o gesto com muita gratidão.
Como doar
A partir de casa
No Porto, o processo de doação é realizado a partir de casa das dadoras, sendo que o hospital disponibiliza todo o material necessário e, depois, faz a recolha.
Doar até aos 12 meses
As dadoras têm que passar por um processo de exames clínicos. E devido às características nutricionais do leite, só é possível doar até aos 12 meses do bebé, sendo que o processo de recrutamento se inicia no primeiro semestre.
Validade de meio ano
Depois de o leite ser pasteurizado, tem uma validade que varia entre os três e os seis meses. No banco do Porto, estão a usar como validade máxima os seis meses após a data da extração.