Programa beneficiou 3588 pessoas desde que foi criado em abril do ano passado. Já foi gasto 70% do total de mais de um milhão de euros angariados.
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O programa "Cartão Dá" da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) não tem um prazo final para terminar, no entanto, a sua continuidade está dependente do valor de donativos e das angariações de fundos. A iniciativa permite a famílias em "situação de privação material" comprar produtos em súper e hipermercados através do pagamento com o cartão solidário, que tem um carregamento mensal. Desde abril do ano passado, 3588 pessoas foram beneficiárias.
A preocupação com a possível insustentabilidade da iniciativa é adiantada por Joana Rodrigues, responsável pela Área Social da Cruz Vermelha, que aponta já ter sido gasto 762 580 euros em saldo até meados de julho. "A nossa preocupação reside na garantia de uma cadência regular de donativos em valor suficiente para manter os apoios prestados e possibilitar novos apoios em continuidade", explica.
Desde abril de 2021 foi alocado mais de um milhão de euros (1 083 580) ao "Cartão Dá", tendo já sido dispensado cerca de 70% do valor. O montante resulta "de campanhas específicas e donativos individuais (empresas e particulares)".
Apoio dura seis meses
O receio de deixar potenciais beneficiários de fora levou a equipa da Cruz Vermelha a pensar em "estratégias de marketing para campanhas de angariação de fundos", revela Joana Rodrigues. "O programa não tem um prazo final, a sua continuidade dependerá da existência de saldo para carregamento dos cartões", diz.
Os valores a distribuir pelos beneficiários depende da composição dos agregados: o mínimo é de 50 euros para uma pessoa e de 100 euros para uma família de quatro ou mais elementos. Há uma majoração de 10% aplicada por pessoa em agregados com mais de seis membros. O apoio não deve ultrapassar os seis meses, mas há exceções.
A fase experimental do programa "Cartão Dá" foi lançada em abril do ano passado e teve a duração de nove meses, "tendo abrangido 19 delegações e beneficiou 2183 pessoas". Atualmente, 28 estruturas locais da Cruz Vermelha estão envolvidas na iniciativa. "O nosso objetivo continua a ser envolver o maior número de delegações que prestam assistência alimentar, alcançando as pessoas necessitadas", aponta a responsável da área social.
Para Joana Rodrigues, o "Cartão Dá" pretende dar "maior dignidade aos programas de assistência alimentar", através da autonomia e liberdade concedida aos beneficiários na seleção dos produtos. As famílias podem escolher os alimentos que querem comprar e gerir o saldo, ao invés de depender dos cabazes.
" A minha vida mudou sem dúvida alguma, porque consigo introduzir carne, peixe e fruta, que antes não tinha. Levei meses a cozinhar feijão e massa. Neste momento consigo dar aos meus filhos uma alimentação de qualidade", indica um dos testemunhos recebidos pela instituição.
Fazer compras em mais locais
Os beneficiários apenas podem realizar as compras com o cartão da Cruz Vermelha nas lojas do grupo Sonae (Continente, Modelo, Bom Dia e online). Mas, no futuro, prevê-se o alargamento dos parceiros da iniciativa, nomeadamente a Auchan e a Mercadona. "A CVP tem estado a encontrar outras soluções que permitam o modelo de apoio em cartão com outros operadores", afirma Joana Rodrigues ao JN.
Notas
Tempo médio
Embora o período previsto para ter o "Cartão Dá" seja de seis meses, o tempo do apoio depende da evolução da situação de carência. Podendo a duração "ser menor ou maior", diz a CVP. O tempo médio registado foi de sete meses.
Apoio a refugiados
No início do ano de 2022, o programa passou a apoiar pessoas e famílias refugiadas acolhidas pelas estruturas locais da CVP, o que fez aumentar o número de beneficiários do cartão.