A diocese de Leiria-Fátima assinala, este sábado, o Jubileu das Vocações, em homenagem aos casais que mantêm o vínculo matrimonial há mais anos e aos sacerdotes com mais anos de profissão.
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A missa está marcada para as 10.30 horas, na Sé de Leiria, e será presidida pelo bispo de Leiria-Fátima, cardeal D. António Marto. A cerimónia é aberta ao público.
Diretor do Serviço de Pastoral Familiar e pároco de Monte Redondo e do Coimbrão, em Leiria, Manuel Henriques de Jesus diz que, este ano, assistirão, pelo menos, 20 casais, quatro padres e 12 irmãs, que celebram 25, 50, 60 ou 75 anos de união ou de sacerdócio. Alice e Antero, casados há 50 anos, e Augusto, padre há 60, cujas histórias contamos em baixo, são três dos que hoje vão ser distinguidos.
O Jubileu das Vocações celebra-se, pelo menos, desde 2011, com exceção do ano passado, devido à pandemia. O diretor revela ao JN que, além dos 20 casais, estará presente um que celebra, este ano, 70 anos de matrimónio. E, além das 12 irmãs, estará mais uma religiosa que assinala 70 anos de união com Deus. O pároco assegura que há mais casais, sacerdotes e irmãs da Diocese que celebram 25, 50, 60 ou 75 anos de união à igreja, mas nem todos podem estar presentes.
Não vivem um sem o outro há meio século
Alice e Antero Neves conheceram-se nos CTT, onde ambos trabalhavam, e nunca mais se perderam de vista. Um ano depois do pedido de namoro, veio o casamento, faz agora 50 anos, e, mais tarde, os filhos Helena e Paulo. Em comum tinham um passado ligado à Igreja. Helena como catequista, em Rio Maior, e Antero a ensinar a doutrina em Pataias, Alcobaça.
Até Antero, 77 anos, se reformar, o casal trabalhou na mesma estação dos CTT em Leiria e depois na Marinha Grande, onde vivem desde então. "Estivemos juntos 24 sob 24 horas, até à reforma", conta Alice, 71 anos. "Alguns casais perguntavam-nos como éramos capazes. É tudo uma questão de amor", justifica.
"Costumo dizer que estou casado ao dobro, porque sempre vivi com a Alice durante o dia e durante a noite", graceja Antero. "Às vezes, tínhamos as nossas divergências, mas fomos superando", garante. "O que nos ajudou foi termo-nos integrado na igreja a 100%", explica. Tornaram-se catequistas, integraram a Equipa de Nossa Senhora e deram cursos de preparação para o matrimónio.
"Não sendo um casal perfeito, dávamos o testemunho do nosso dia a dia e isso fortaleceu-nos", afirma Antero. "Vivemos com um espírito mais leve", realça Alice.
Apesar da dedicação à igreja, Alice e Antero garantem que a família sempre esteve em primeiro lugar. "Tivemos a minha mãe 15 ou 16 anos cá em casa e a minha sogra uns oito ou nove", explica Antero. "E quando a minha filha, que vive em Lisboa, teve um problema oncológico, fomos para lá para lhe dar apoio", acrescenta Alice.
Quando era criança reproduzia os sermões às ovelhas
Augusto Pascoal, 84 anos, prefere falar em vontade ou desejo de ser padre, em vez de sentir vocação. Educado num ambiente cristão, no lugar de S. Bento, Leiria, quando era criança, reproduzia os sermões dos padres às ovelhas. Em agosto, faz 60 anos de sacerdócio.
Incompreendido quando dizia que queria ser padre, deixou de falar no assunto, para evitar as risadas das pessoas, mas estava determinado a percorrer esse caminho. Aos 13 anos, quando se aproximou a data de pedir admissão ao Seminário, contou à mãe, que lhe perguntou porque queria ser padre. "Para ser padre", respondeu. Da parte do pai também não encontrou oposição.
Dedicado ao conhecimento, licenciou-se em Teologia, em Filologia Clássica e em Filologia Românica. Esta última foi tirada com um esforço acrescido, pois só assistia às aulas no dia de folga semanal, para não faltar ao trabalho. "Levantava-me às cinco da manhã para ir para Lisboa e chegava ao Seminário às 22 horas", recorda. "Saiu-me do corpo e da carteira."
Além de se dedicar ao ensino no Seminário, Augusto tirou, mais tarde, um doutoramento em Latim Humanístico, concluído aos 66 anos. Nesse período, presidiu à Comissão Instaladora do polo de Leiria da Universidade Católica, onde deu sempre aulas, enquanto esteve aberto.
"Agradou-me sempre ser professor, mas do que gostava mais era de ser sacerdote", confessa. Questionado sobre quando deu a última missa, responde que a celebra todos os dias no quarto. "Para o padre, o ato mais importante é a celebração da eucaristia."