Casal tem nove filhos: a mais velha com 16 anos e o mais novo com seis meses. Há um mapa com as tarefas.
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Há seis meses, no final de 2019, Sandra Silva foi mãe. Aos 42 anos, não é uma estreante, muito longe disso. Manuel é o nono filho de Sandra e Pedro Portugal que vivem no concelho de Sintra. Nasceram todos de enfiada. A mais velha tem 16 anos, foi a primeira de três meninas; tudo o resto são rapazes, incluindo o bebé. "As coisas foram surgindo naturalmente", diz Sandra, ao tentar explicar a opção de vida que, ao quarto filho, a levou a largar o trabalho. É mãe a tempo inteiro.
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Eram 11 horas e a agitação de uma casa entre aulas online e brincadeiras fazia-se ouvir. Talvez o facto de ter crescido entre três irmãos a tenha influenciado a querer uma casa cheia. "O dinheiro estica-se. É uma questão de gestão e de partilha", descomplica Sandra.
Em casa, foram partindo paredes. "Tínhamos um T2 com um sótão amplo e fomos fazendo obras. Agora, é um T2+3", diz. Já não há carrinhas com lugares suficientes para a família. "Vamos tendo muita ajuda de pais, amigos, vizinhos. Montámos um esquema para os ir levar e buscar à escola". E nas férias não há outra hipótese senão levar os dois carros.
Tudo é planeado ao milímetro e os recursos são rentabilizados. "Reaproveitamos roupas, carrinhos de bebé, bicicletas. Não só entre irmãos, mas entre famílias. Temos a sorte de aqui haver muitas famílias numerosas. Somos todos amigos. E as coisas vão circulando", relata Sandra.
Durante o confinamento, tiveram que reaproveitar portáteis velhos, pedir emprestado, fazer ginástica entre televisões e telemóveis. Em tempos normais acontece o improvável: "Nos trabalhos de grupo, acabam sempre cá em casa. Os colegas gostam da agitação. E nesta casa cabem sempre mais dois ou três".
Jantar fora é "balúrdio"
Sandra confessa que "há dias melhores e outros piores". Jantar fora é coisa rara. "Fica um balúrdio e é difícil organizarmo-nos para irmos todos". Mas, em dias de festa, vão ao shopping perto de casa. "Os miúdos acham graça à reação das outras pessoas. Porque não é comum ver uma família tão grande". Também não é fácil visitar museus. Os bilhetes família preveem dois adultos e duas crianças. "Neste país, é muito complicado. Os nossos filhos não são muito de praia, costumamos fazer férias mais históricas. Mas há algumas opções".
Crescer numa família grande parece trazer mais do que a azáfama. "A nossa decisão também se prende com o facto de acharmos que ter muitos irmãos acaba por ser uma escola de vida. Aprendem coisas que na escola não se aprende. A partilhar, a estar atentos uns aos outros, a lidar com frustrações. Cá em casa não podem ganhar todos, aprendem a perder. E não podem ter tudo o que querem, nem ao mesmo tempo". São todos tão diferentes que Sandra diz que "parece uma casa de filhos únicos". Tem um mapa afixado com as tarefas de cada um. "Se um não põe a mesa, não almoçamos".
Margarida, 7 anos, já esperava pela mãe para a ajudar com a telescola. "Hoje, as meninas vão à piscina", contava ela. Em casa, tem "sempre meninos para brincar", só se queixa que o bebé "às vezes chora muito". Mas os irmãos também o desejaram. "Alguns pediam", diz a mãe.