As novas formas de conjugalidade retiraram importância ao casamento, enquanto ato em si. E aos cada vez menos que se vão celebrando, os católicos perdem ainda mais expressão.
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Hoje, apenas três em cada dez casamentos são celebrados pela Igreja. Liberdade de escolha que explica também que, no ano passado, 56,8% dos 86 579 bebés tenham nascido fora do casamento. A crise socioeconómica injetada pela atual pandemia irá suspender projetos de vida. Voltar, tal como na passada crise financeira, a adiar maternidades. Algumas para sempre.
De acordo com as Estatísticas Vitais, ontem divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística, no ano passado inverteu-se a tendência de subida iniciada em 2015, ao realizarem-se menos 3,9% de casamentos (33 272). Se recuarmos dez anos, o número de celebrações caiu 18%, sendo que as católicas registaram uma quebra de 42%. De referir, ainda, que 61,1% dos nubentes já viviam juntos.
Ao JN, a socióloga Vanessa Cunha, especializada em Sociologia da Família, fala numa "tendência de fundo assente em três fatores: menor peso da Igreja, maior liberdade social de escolha e maior fluidez das relações conjugais". A dessacralização da sociedade, diz, veio retirar "a pressão de vivermos de forma mais institucionalizada". Ao que acresce, frisa a também investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, "um aumento de novas conjugalidades".
Impactos da pandemia
E se são já conhecidos impactos da atual pandemia nas condições de vida dos portugueses, as relações sociais e de conjugalidade não escaparão. Ao nível dos matrimónios, o que "provavelmente vai acontecer é, daqui a uns meses, haver um "miniboom" devido ao adiamento de casamentos", adianta Vanessa Cunha. Que, em alguns casos, face aos cortes nos rendimentos, poderão arrastar-se no tempo.
Tempo que poderá, no entanto, adiar para sempre os projetos de maternidade. "Os efeitos da pandemia no plano económico e social podem contribuir para que se adie mais a maternidade, como na crise anterior. Só que quando temos filhos tarde, esse adiar pode resultar em nascimentos perdidos", frisa ao JN a demógrafa Maria João Valente Rosa. Porque, lembra, hoje, um filho "é muito planeado e pensado, em que se espera que as circunstâncias sejam as melhores possíveis". Refira-se que no ano passado os nascimentos recuaram 0,5%.
Demografia
Apenas Lisboa registou um saldo natural positivo
Pelo 11.º ano consecutivo, Portugal registou um saldo natural negativo (-25 214), isto é, com mais óbitos (num total de 111 793, menos 1,1% face a 2018) do que nascimentos. Apenas a Área Metropolitana de Lisboa registou um saldo natural positivo (+1382), a que não serão alheios os fluxos migratórios, não sendo ainda conhecido, no entanto, qual o saldo migratório de 2019. Em sentido inverso, o Centro registou o saldo natural negativo mais elevado (-12 195), seguindo-se o Norte (-7672).