Relatório de Portugal sobre o Sínodo dos Bispos, que resulta da auscultação nas dioceses, critica a Igreja "pouco transparente e resistente à mudança".
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O fim do celibato obrigatório e a valorização do papel da mulher "num plano de igualdade" com os homens, "incorporando-a nas estruturas do poder eclesial", são duas das propostas constantes do relatório de Portugal sobre o Sínodo dos Bispos. No documento, elaborado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a partir dos contributos recolhidos em todas as dioceses, pede-se também "uma Igreja de portas abertas", que acolha "todos" e que exclua "atitudes discriminatórias, que deixam à margem a comunidade LGBTQIA+", mas também os divorciados recasados.
No relatório, a enviar à secretária-geral do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, é sublinhada a importância de a Igreja repensar a participação "de todos os batizados, independentemente da sua vida afetiva-sexual que é vivida muitas vezes como um tabu". "Todos querem uma Igreja renovada, mais amiga dos necessitados, mais santa e mais evangélica, que propicie o envolvimento de todos", lê-se no documento, onde se reproduz a crítica feita pelos católicos auscultados a uma Igreja "espiritual e humanamente pouco inclusiva e acolhedora, discriminando quem não está integrado ou não vive de acordo com a moral cristã".
Segundo o relatório divulgado recentemente pela CEP, os católicos portugueses pedem também uma Igreja "mais transparente e rigorosa" nas suas formas de decisão e de gestão e "menos refém das lógicas das hierarquias e do poder", envolvendo a comunidade nesses processos.
"A Igreja mantém uma atitude demasiado hierárquica, clerical, corporativa, pouco transparente e resistente à mudança", mais preocupada na "manutenção da sua imagem" do que em "preservar a segurança da comunidade", aponta o documento. De acordo com a síntese sinodal, é ainda defendida uma "reestruturação do caminho formativo" dos seminários, que exibe "lacunas na dimensão humana, espiritual, afetiva e cultural", bem como a necessidade de a Igreja "renovar" a forma de comunicar.
São também assinaladas as dificuldades de a instituição "fazer caminho com os jovens", uma faixa etária que considera que a Igreja tem uma mentalidade "retrógrada e desajustada dos tempos que vivemos". Pede-se, por isso, que se dê "mais voz e protagonismo" aos jovens nas instâncias eclesiais de decisão.
Apesar dos aspetos negativos apontados, os católicos auscultados entendem que a Igreja "é tida globalmente como uma instituição credível" e um "porto seguro", "presente nos locais onde mais ninguém ousa ir e solidária com os mais desfavorecidos".
Roma acolhe assembleia eclesiástica em outubro do próximo ano
A 16.ª assembleia-geral do Sínodo dos Bispos, que reunirá os mais altos representantes da Igreja de todo o Mundo em Roma, está prevista para outubro de 2023, tendo como tema "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão". Pela primeira vez, envolve um processo de consulta, com assembleias diocesanas e continentais, para garantir uma "escuta real" a todos os fiéis e que o Sínodo não seja "apenas um acontecimento, mas um processo". Em mais de 50 anos, as assembleias sinodais foram sempre consultivas, mas, segundo o Direito Canónico, o Sínodo goza de "poder deliberativo", quando lhe é concedido pelo pontífice.