As causas de morte do ano passado, que permitirão estudar e compreender o excesso de mortalidade no nosso país, só serão conhecidas em maio de 2022.
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O Instituto Nacional de Estatística (INE) previa lançar hoje os primeiros dados provisórios, mas a Direção-Geral da Saúde (DGS) prolongou o período de codificação. Em 2020, recorde-se, morreram mais de 123 mil pessoas, um recorde pós-1960, quando os dados começaram a ser sistematizados pelo INE.
Os óbitos por causas de morte permitem perceber a evolução da mortalidade em Portugal por patologia, como sejam enfartes, cancro ou AVC. Sendo apuradas com base nos dados do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO).
Ao JN, o gabinete de estatística nacional explicou que "a codificação das causas de morte é efetuada pela DGS, que prevê ter este processo concluído no final do primeiro quadrimestre de 2022, incluindo a validação conjunta com o INE durante o mês de abril". Questionado, o gabinete de Graça Freitas não respondeu. A nova data de publicação é, agora, 16 de maio do próximo ano.
Novos códigos para covid-19
A codificação das causas de morte é assegurada pela DGS, seguindo os procedimentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo a utilização da CDI-10 - Classificação Internacional das Doenças. Com a pandemia a determinar a criação de códigos específicos para a covid-19, tendo a CDI-10 sido atualizada no ano passado pela OMS.
O que está definido, mas nem sempre é cumprido, é os dados das causas de morte serem entregues até setembro para revisão final em outubro e publicação em novembro. Num processo já semiautomático, mas que "não estava treinado para a covid", explica ao JN Paulo Nogueira, investigador em Bioestatística da Faculdade de Medicina em Lisboa. Explicando o processo: "Quando há uma determinada morte, o médico escreve no SICO a causa, o codificador lê e codifica essas causas e a causa básica". Sendo que, diz o antigo chefe de Divisão de Estatísticas de Saúde da DGS, o país "tem codificadores treinados para o efeito".
Em ano pandémico, admite que a "covid vá aparecer como principal causa, tirando espaço a outras causas habituais". Razão pela qual defende que se interpretem os dados além da causa básica. "Vai ser preciso uma análise adicional", defende o investigador.
Informação essa constante no certificado de óbito, tendo Paulo Nogueira em curso um estudo onde confronta a "informação que saiu de morbilidade e a morbilidade que está no certificado de óbito". No seu entender, "seria possível uma interação e melhoria dos sistemas de informação, otimizando-a".
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Excesso de óbitos
No ano passado, e com início de contagem a 2 de março, quando foi diagnosticado o primeiro caso de SARS-CoV-2 em Portugal, o INE apurou um excesso de 12 852 óbitos em Portugal, dos quais 52% por covid-19.
Mortes colaterais
De acordo com um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública, dos óbitos em excesso registados no ano passado, e descontando aqueles por covid-19, 54% terão sido causados por doença cardiovascular e cancro.