Em "tempo de incerteza", Cavaco Silva advertiu esta sexta-feira à noite, na sua última mensagem de Ano Novo como presidente da República, que "temos o dever de defender" o atual "modelo político, económico e social", que assenta no europeu, e também de "renovar o contrato de confiança entre todos os portugueses".
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A pouco mais de dois meses de terminar o último mandato e após ter empossado António Costa a 26 de novembro, Cavaco optou por não mencionar o novo xadrez político, nem repetir o apelo ao diálogo interpartidário que fez nos anos anteriores.
Há um ano, sem adivinhar o que viria a acontecer após as legislativas de outubro, exceto a ausência de maioria absoluta, Cavaco admitiu a incapacidade de os partidos se entenderem antes das eleições e desafiou-os a preparar o período pós-legislativas. "Não é só no dia a seguir às eleições que se constroem soluções governativas estáveis, sólidas e consistentes", justificou. E advertiu que o pós-eleições seria "marcado por exigências de compromisso e de diálogo".
Falhado o entendimento entre PSD e PS que procurou promover após a coligação ter ganho sem maioria absoluta, Cavaco omite agora a palavra compromisso. Das eleições à posse de Costa, fruto do acordo entre partidos da Esquerda, passaram quase dois meses.
Este ano, pede estabilidade no final da sua mensagem aos portugueses. "Vivemos um tempo de incerteza. Temos o dever de defender o modelo político, económico e social que, ao longo de décadas, nos trouxe paz, desenvolvimento e justiça". E "temos de renovar o contrato de confiança entre todos os portugueses, que constitui a maior razão para acreditarmos num futuro melhor", disse, após avisar que, "numa Europa marcada por tensões e conflitos" onde emergem "pulsões extremistas e xenófobas, Portugal deve afirmar a sua identidade universalista".
"Políticos desconhecem país"
Na mensagem de 2016, o balanço dos 10 anos de mandato já havia começado com a afirmação de que os portugueses são "o nosso grande motivo de esperança num tempo de incerteza". E "os portugueses que estão a fazer Portugal não exigem o impossível nem pedem muito, apenas que o Estado crie condições para que possam desenvolver o seu trabalho e, depois, que os poderes públicos não estabeleçam entraves à sua atividade, desde a criação de emprego e riqueza até à defesa do património e ambiente, passando pela inovação social e tecnológica". Além disso, defendeu mais justiça social, menos pobreza e exclusão.
Em jeito de crítica, o presidente afirmou depois que "este não é um país imaginário", mas "o país real" e "verdadeiro que muitos agentes políticos desconhecem".
Modelo económico europeu
Mas os avisos à navegação não ficaram por aqui. Cavaco lembrou que "Portugal tem por adquiridos os princípios da liberdade e da democracia, identifica-se plenamente com os valores civilizacionais do Ocidente e com o modelo de desenvolvimento económico e social da Europa".
Após lembrar o regresso de milhares de portugueses das antigas colónias de África, defendeu ainda que "temos o dever de acolher aqueles que nos procuram para se integrarem na nossa sociedade", partilhando valores e princípios "de que nunca abdicaremos", entre os quais "a tolerância e a dignidade da pessoa humana, o respeito pela nossa cultura e pelas nossas tradições".