Maioria dos centristas encara um conclave como incontornável. Conselho Nacional não deverá trazer paz à atual liderança.
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Até pode ser um dia D, mas o Conselho Nacional deste sábado não irá sarar todas as feridas internas num partido que luta, há três anos, pela sobrevivência e cuja tendência decrescente nas sondagens se acentuou no último ano. Especialistas em Ciência Política defendem que, mesmo que Francisco Rodrigues dos Santos consiga fazer vingar a sua moção de confiança, não terá vida fácil até ao final do mandato. São cada vez mais as vozes a concordar com um congresso. A questão é quando.
Para o investigador António Costa Pinto, o declínio do CDS-PP começou em 2019, quando o partido testou o seu peso nas urnas e acabou com cinco deputados, o que ditou a demissão de Assunção Cristas. Por isso, há quem entenda que o dedo não pode ser apontado ao aparecimento do Chega e da Iniciativa Liberal. "É o resultado dos erros dos partidos à Direita", crê o ex-líder dos centristas José Ribeiro e Castro, defendendo que o CDS-PP cometeu um "erro de posicionamento estratégico", ao querer "agradar a todos".
Ribeiro e Castro não tem dúvidas de que foi a secundarização do "personalismo cristão" que provocou o descontentamento e a saída de militantes, dando espaço para o surgimento de partidos como o Chega, que vivem do descontentamento. Acresce a situação financeira do CDS-PP e um constante desgaste interno da liderança. "As pessoas olham para o partido e veem um saco de gatos", diz Ribeiro e Castro, culpando os críticos por agravarem a situação, ao criarem uma "crise artificial".
Não à "política de avestruz"
Ribeiro e Castro é, contudo, quase único na oposição a um debate interno. Desde que Adolfo Mesquita Nunes desafiou a liderança que não param de surgir vozes a admitir a necessidade de um congresso, entre as quais as de Pires de Lima e Lobo Xavier. A questão é se será antes ou depois das autárquicas, na reta final do mandato de Rodrigues dos Santos. Ontem, foi a vez do líder parlamentar.
"Depois das eleições, das demissões e das discussões, se não se devolver a palavra a todos os militantes, qualquer solução ficará coxa. Não podemos fazer política de avestruz e ignorar a realidade", escreveu Telmo Correia, num artigo no Público, em que considerou "incontornável" a realização de um congresso.
Sem "mão" no grupo parlamentar (os deputados João Gonçalves Pereira e Ana Rita Bessa já declararam apoio a Mesquita Nunes) e após ter perdido cinco elementos da sua Direção, o líder do CDS-PP até pode conseguir que hoje a sua moção de confiança seja aprovada mas isso não significa paz. "Mesmo ganhando o Conselho Nacional, vai ter uma vida difícil", defende o professor da Universidade do Minho José Palmeira, considerando que o CDS-PP precisa de um "líder mais forte e com mais maturidade". "A capacidade de recuperação do CDS-PP é muito limitada e o apaziguamento difícil", acrescenta António Costa Pinto.
Argumentos a favor....
Constantes críticas
Francisco Rodrigues dos Santos nunca teve tréguas, depois de ser eleito. "Não houve um mês em que não ocorresse um episódio interno", apontam os seus defensores, acusando os críticos de desgastarem o partido e o líder.
Criação de uma falsa crise
Para os defensores da liderança, nada aconteceu desde a noite das presidenciais que justifique um desafio à liderança. E acusam os críticos de serem os principais responsáveis pela situação do partido.
... e argumentos contra
Linguagem arrogante
Nem sequer é a idade. "É a sua incapacidade", dizem os críticos, que acusam Francisco Rodrigues dos Santos de recorrer a "uma linguagem pomposa e, muitas vezes, arrogante", que se torna impercetível para o eleitorado.
Ausência de agenda
Acresce que o CDS-PP perdeu a sua identidade de humanismo cristão, com uma liderança mais preocupada "em posicionar as suas tropas" do que em marcar a agenda nacional.