Crise dos combustíveis subiu o custo dos produtos e há quem baixe as margens de lucro para minimizar impacto para clientes. Bacalhau, bolo-rei, cabrito e frutos secos são das iguarias mais procuradas para a consoada.
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A ceia de Natal vai ficar este ano ligeiramente mais cara, fruto de as matérias-primas também terem aumentado de preço, por conta da subida dos combustíveis. Há comerciantes que acabam por assumir "uma margem de lucro menor" para minimizar o impacto na fatura de quem compra, para não deixar "fugir" os clientes. Mas fazem questão de manter a qualidade dos produtos.
No caso do bacalhau, que não pode faltar como prato principal da ceia na casa da maioria dos portugueses, José Almeida, da mercearia fina O Pretinho do Japão, assegura que este ano "tem sido mais pequeno", muito embora a "qualidade continue a ser muito boa". Característica que para o comerciante não pode faltar na sua loja, contando que, por isso, hoje em dia já recebe "os filhos e os netos dos seus antigos clientes". "A tradição ainda é o que era", diz, visivelmente orgulhoso.
Por estes dias, à loja da Rua do Bonjardim, no Porto, têm chegado não só os habituais clientes da Invicta, como também outros, "de Gondomar, Matosinhos, Maia, Póvoa de Varzim e até de Lisboa, que aproveitando um passeio ao Norte acabam por levar o que precisam". "Mas já vendi bacalhau para o Natal logo em agosto", sublinha.
importante é o convívio
Na montra, os lombos de bacalhau a 27,95 euros o quilo criam cobiça a quem passa. Com a subida dos preços, o comerciante refere que optou por tirar "uma margem de lucro menor" para não sobrecarregar o bolso dos clientes, convicto que as pessoas "não vão baixar à qualidade, porque a pandemia fez perceber que o mais importante é todos estarem em convívio à volta da mesa".
Nesta casa, pode ainda comprar figos pingo de mel a oito euros o quilo, cem gramas de pinhão a 8,99 euros e a noz a 6,80 euros.
No caso da pastelaria Cristo Rei, na Rua de Fernandes Tomás, o dono António Lopes, de 60 anos, assegura que os bolos-reis "sofreram um aumento de um euro", devido "à subida do preço das matérias-primas".
Assim, o bolo-rei tradicional - a especialidade da casa que é fabricada todos os dias - está a 13 euros o quilo; o escangalhado a 14; o de chocolate a 15; e o bolo-rainha a 16. Quem preferir também levar para casa as rabanadas já prontas (e com um tamanho generoso), sabe que cada uma custa 1,5 euros.
Mas atenção: a Cristo Rei, que na semana do Natal confeciona entre sete a oito mil bolo-reis, não aceita encomendas.
entregas ao domicílio
Sendo costume no Norte de Portugal, sobretudo na zona raiana, o bacalhau dar lugar ao polvo na mesa de consoada, Sara Araújo, peixeira do Bolhão, perspetiva que "as vendas vão correr melhor do que o ano passado". "Em 2020, o que nos salvou o Natal foram as entregas ao domicílio", recorda. Um serviço que ainda hoje faz questão de manter, ciente de que "as rotinas dos clientes mudaram".
Com os polvos maiores a 18 euros o quilo e os mais pequenos a 17 euros, Sara admite que "os preços na próxima semana podem subir ligeiramente face à procura".
O mesmo poderá acontecer aos vegetais, referiu ao JN Cláudia Moreira, que juntamente com o marido, Jorge, criou o Mercado dos Frescos, de entrega de frutas e legumes ao domicílio, com a mais-valia dos alimentos virem diretamente dos produtores. Como as pencas tronchudas da Estela, na Póvoa de Varzim.
As encomendas para o Natal - com uma rota que passa por Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Maia, Matosinhos e Porto - têm de ser feitas, no máximo, até à próxima terça-feira. Os interessados podem usar o email geral@mercadodosfrescos.com.
Já no Talho do Bonjardim, aberto há mais de 100 anos, Aníbal Pinto refere que aceita encomendas "de peru desmanchado a 6,10 euros o quilo e de cabrito a 17,99 euros o quilo". Também ali, explica, os preços subiram relativamente ao ano passado, devido "à escassez de matéria-prima e por causa da subida do preço dos combustíveis".