Célia não trabalha para cuidar do filho 100% dependente: "Há uma nuvem negra todos os dias cá em casa"
Mãe abdica de trabalhar para cuidar do filho, que tem 100% de incapacidade. A família tem dificuldades financeiras.
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Célia Grazina Teixeira, 49 anos, divulgou um vídeo no Facebook a pedir ajuda para pagar as despesas diárias e as terapias do filho, de 11 anos, que ficou com paralisia cerebral na sequência do parto. Face à gravidade da doença, João está ao cuidado permanente da mãe, obrigada a deixar de trabalhar. A criança recebe apenas 180 euros por mês, uma ajuda do Estado por ter 100% de incapacidade.
O pai do menino é o único que trabalha, mas o valor que David recebe pouco mais dá para pagar além da renda. A família tem vivido das ajudas dos familiares, amigos e dos donativos de desconhecidos. "Num mês mais tranquilo, só em fraldas, medicação e terapias são 400 ou 500 euros", garante Célia. De fora ficam os restantes gastos do agregado familiar de Odivelas, constituído ainda por Beatriz, de 15 anos. "Há uma nuvem negra todos os dias cá em casa".
As olheiras vincadas deixam adivinhar o estado de exaustão de Célia, que dorme "duas a três horas seguidas por noite", pois está em alerta permanente. "O João tem muitas convulsões quando está a dormir. Apesar de tomar um relaxante muscular, tem descargas elétricas, engasga-se e tenho de o aspirar", explica a mãe. "Tanto pode dormir uma hora seguida, como 15 ou 20 minutos. As noites são muito complicadas".
João não fala, não anda, não vê e não consegue engolir. É alimentado por uma sonda ligada diretamente ao estômago. Uma criança prisioneira de um corpo que parou de se desenvolver há muitos anos. "A única coisa que notamos é que interage mais connosco, emitindo sons", explica Célia. "Quando tem fome, faz um som. Se tem dor, faz um esgar", exemplifica a cuidadora. "Não demonstra felicidade e não sorri. Só sorriu duas vezes quando a irmã estava a brincar com ele".
Célia aguarda que seja feita uma reavaliação do estado de saúde do filho, porque o atestado de incapacidade caducou e os exames foram suspensos devido à pandemia. Só depois Célia se poderá candidatar ao Estatuto de Cuidador Informal, ao qual deixa críticas. "Basta ter uma depressão para ficar fora dos critérios", denuncia. Considera ainda que "o subsídio de apoio ao cuidador devia ser equivalente, pelo menos, ao ordenado mínimo nacional".
A mãe lamenta também a "falta de importância atribuída ao descanso do cuidador" e que o projeto-piloto da União Europeia em que participou, há cerca de seis anos, não tivesse continuidade.
"Durante um ano e meio, vinham enfermeiros a nossa casa tomar conta do João, para podermos descansar ou sair", recorda. "Percebi que, afinal, havia pessoas aptas para cuidar do meu filho, além de mim. Senti um alívio, porque é uma carga muito grande que carregamos aos nossos ombros".
Perguntas e Respostas
Quem pode ter acesso ao subsídio do cuidador informal?
Pessoas entre os 18 anos e a idade legal de acesso à pensão de velhice e que residam num dos 30 concelhos dos projetos-piloto. Além disso, os rendimentos de referência do agregado familiar do cuidador informal principal têm de ser inferiores a 526,57 euros.
Qual é o valor do apoio?
O valor de referência do subsídio de apoio é de 438,81 euros. O montante é igual à diferença entre a soma dos rendimentos do cuidador informal principal e do valor das prestações por dependência das pessoas cuidadas, e o valor de referência do subsídio de apoio ao cuidador principal.
O subsídio pode ser acumulado com outros benefícios?
O subsídio não pode ser acumulado com prestações de desemprego, por dependência ou por doença, nem com pensões de velhice e de invalidez absoluta, por doenças profissionais associadas à incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho.