O movimento ambientalista proTejo sugere em comunicado divulgado esta quarta-feira à Celtejo que, "em nome do bom senso", retire a ação judicial contra Arlindo Consolado Marques, conhecido por "guardião do Tejo", devido à sua intensa atividade de denúncias de casos de poluição do rio.
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"Seria de todo desejável que a Celtejo tenha o bom senso de assumir a reparação dos danos ambientais e económicos causados pela deterioração causada ao rio Tejo, com maior gravidade nos últimos três anos, e de retirar a ação interposta contra o Arlindo Consolado Marques, membro do proTEJO e seu secretário da mesa do Conselho Deliberativo, por ofensas à sua credibilidade e bom nome", lê-se no documento divulgado hoje nas redes sociais.
A empresa de celulose de Vila Velha de Ródão - uma das fábricas de pasta e papel da Altri (pertencente a Paulo Fernandes, que detém também o jornal O Correio da Manhã) que, segundo a Inspeção-Geral do Ambiente, é responsável por 70,82% das emissões no rio Tejo, anunciou em dezembro a instauração de um processo a Arlindo Marques, por este associar os episódios de poluição no Tejo à empresa. Em tribunal reclama uma indemnização de 250 mil euros por danos atentatórios do seu bom nome.
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Arlindo Consolado Marques, 52 anos, nascido e criado na Ortiga, no concelho de Mação, e guarda prisional de profissão, dedicou os últimos três anos à denúncia de casos de poluição no Tejo. Nas redes sociais publicou centenas de fotos e vídeos de troços do rio cobertos de espuma e com peixes mortos. As denúncias foram ganhando visibilidade, já ultrapassaram fronteiras e obrigaram o Governo e a Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) a intervir.
Sobre o apelo da proTejo à retirada do processo judicial, o "guardião do Tejo" disse esta quarta-feira ao JN estar "expectante" mas preparado "para o que der e vier". Referiu ainda que vai solicitar a reconversão do processo, pedindo ele mesmo indemnização à Celtejo pelos danos causados à sua vida. "Eu não vou querer o dinheiro para mim, apenas quero o que for para pagar as custas do processo. O resto é para aplicar no repovoamento do rio, em prol da natureza", garantiu.
Arlindo Marques conta ainda que tem recebido contactos da imprensa estrangeira para denunciar os casos de poluição do Tejo amplamente divulgados em Portugal nos últimos dias. "Ainda esta quarta-feira me ligou um jornalista espanhol e a Euronews queria que eu entrasse em direto via Skype, mas não podia na altura, porque estava a trabalhar", contou ao JN. "Estes são sinais que as pessoas estão atentas, que os portugueses perceberam que andavam a ser enganados", diz.
O ambientalista começou em 2015 a publicar os vídeos e fotos da poluição no Tejo. Sobre o processo judicial da Celtejo, diz que lhe tem causado "alguns problemas", devido à pressão mediática sobre si mas, ainda assim, garante que não vai deixar de denunciar os ataques ao rio: "Enquanto tiver forças, eu vou continuar", observa, recordando que no início desta batalha, "apenas as rádios mais locais, alguns deputados e presidentes de Câmara da zona do Tejo" lhe davam atenção.
Atualmente, conta que as pessoas se aproximam dele na rua e o felicitam pela denúncia destes casos, sobretudo a partir de 24 de janeiro quando divulgou uma das maiores descargas poluentes de sempre. "Não sou nenhum herói, sou apenas uma pessoa que defende o rio. Quem o andou a poluir só tem de indemnizar quem foi seriamente prejudicado, como pescadores e donos de restaurantes, e mudar a sua forma de laborar", conclui.