Há muito que a recuperação do tempo de serviço não é a principal reivindicação gritada numa manifestação. Hoje, no desfile convocado pela Fenprof, entre o Rossio e o Largo Camões, em Lisboa, a carreira é a principal batalha porque só melhores condições atrairão mais docentes.
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Susana Nogueira, do Porto, foi uma das que rumou à capital, por ela e pelo futuro do ensino. A professora de Artes Visuais tem 27 anos de serviço, mas só este ano conseguiu vincular num quadro de agrupamento em Paços Ferreira. "Setenta quilometros por dia é fácil", diz sorridente, defendendo que o apoio à deslocação criado pelo Governo "é positivo" mas devia "ser para todos". "É uma questão de justiça", insiste.
Durante anos precisou da ajuda da família para se manter no ensino, chegou a ter ofertas de emprego noutras áreas, mas recusou sempre. "Não me arrependo, faço o que mais gosto, mas não é nada fácil", afirma. Para a docente, o mais importante na revisão do estatuto da carreira que se avizinha era que cada docente ficasse no escalão correspondente ao tempo de serviço.
A Fenprof irá apresentar uma proposta ao Governo a defender uma carreira mais curta (de 26 anos até ao topo em vez de 34 anos), com escalões de três anos em vez de quatro, subida generalizada de salários, especialmente nos três primeiros escalões.
Marta Cruz, que também viajou do Porto para Lisboa para participar no desfile, pede uma carreira "sem estrangulamentos", sem quotas e vagas a impedir a progressão para que o topo, "não seja para dois ou três mas para a maioria". "Bons profissionais têm de aspirar atingir o topo da carreira", disse ao JN a professora de Física e Química.
Quando ainda há milhares de alunos sem aulas, três semanas depois do arranque do ano letivo e a dias da entrega da proposta do Orçamento do Estado, os professores reivindicam um reforço da dotação e do investimento na escola pública.
Cláudio Moreira, professor numa escola privada de ensino artístico especializado, também celebrou o dia mundial no desfile. Tem 13 anos de serviço, todos na mesma escola. Já está nos quadros da academia. Mas é uma exceção, garante ao JN. A precariedade é elevada no ensino privado, no retudo artístico e profsssional, muitos acumulam horários incompletos em várias escolas, sublinha. "E são muito poucos os que saiem à rua. Há professores que têm medo, são ameaçados", denuncia Cláudio Moreira.