"O lugar da mulher é onde ela quiser", gritaram centenas pelo fim da violência
Alguns períodos de chuva intensa ao final desta tarde, em Lisboa, não impediram que cerca de 800 pessoas desfilassem pelas ruas da capital pelo fim da violência contra as mulheres. Numa das partes mais cosmopolitas da cidade, o som ensurdecedor dos bombos não abafou as palavras de ordem gritadas a uma só voz por mulheres e homens dos quatro cantos do mundo.
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Uma bandeira da Palestina, a irromper a multidão, ou um cartaz onde se lia "Mariele Franco também está aqui" reforçavam a dimensão do flagelo nacional e internacional. "Estou aqui para representar todas as mulheres e crianças mortas todos os dias na Palestina. É uma vergonha ninguém fazer nada", explicou o manifestante que empunhava a bandeira.
"O lugar da mulher é onde ela quiser", "A nossa luta é todo o dia, somos mulheres e não mercadoria", "Queremos justiça, não juízes machistas" e "Contra a injustiça e a violência patriarcal" foram alguns dos cânticos mais ouvidos numa manifestação que encheu grande parte da Avenida Almirante Reis até ao Martim Moniz e seguiu até ao Rossio.
Na concentração também estiveram membros do Governo e do poder local - como o presidente da Câmara de Lisboa e a vereadora da Habitação - e várias associações - a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), a Assembleia Feminista de Lisboa, a Associação de Direitos da Mulher na Gravidez no Parto, Mulheres em Defesa da Terra Libertada, a Rede 8 de Março, o Sindicato dos Estudantes, entre outros. Uma das integrantes da Assembleia Feminista de Lisboa lembrou que a "violência machista sempre existiu, nunca desapareceu, mas transformou-se". "Isto não é um problema individual, mas estrutural", sublinhou.
A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, também presente na concentração, admitiu em declarações ao JN que "ainda há muito a fazer para combater estes números" (de 25 mulheres assassinadas só este ano) mas, sublinhou, "também já muito foi feito". "Por um lado, é preciso reconhecer que há muita coisa feita, mas temos de admitir que é preciso continuar a trabalhar todos os dias ainda para alterar radicalmente o paradigma que permite que a violência se exerça desta forma", frisou.
O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, nas manifestações pelo fim da violência contra mulheres desde 2016, sublinhou que este tema "não é só de mulheres, mas de toda a comunidade e sociedade portuguesa" e que é "uma prioridade estratégica" para o Governo. "Isto era uma realidade, por vezes, escondida ou considerada privada, e por isso temos lançado um apelo à denúncia porque também permite a prevenção e a consciência do risco. O crescimento de 10% das denúncias este ano, houve 22 mil casos denunciados até ao final de setembro, significa um reconhecimento da pró-atividade. Mesmo em zonas rurais e regiões autóctones hoje existe uma consciência de que é um crime não tolerável", sublinhou.
Eduardo Cabrita lembrou ainda que mais de metade das esquadras da PSP ou GNR "já têm uma sala que permite o atendimento em privacidade" e que qualquer novo posto, construído ou requalificado a partir de agora, "terá de contar com este tipo de espaço". "Em todas as novas esquadras da PSP ou postos da GNR, que são dezenas, existe um espaço com privacidade dedicado ao atendimento por um profissional com formação. Reforçamos também a formação para atendimento, prevenção e repressão criminal dos crimes de violência de género e contra as mulheres", frisou. As horas de formação nesta área "foram o dobro das do ano passado", concluiu.