O ministro das Finanças admitiu no Parlamento que foi um "choque" o pedido de demissão da administração da CGD liderada por António Domingues.
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"Obviamente a substituição da administração no mês de dezembro foi um choque do ponto de vista do processo, mas não teve nenhum impacto no processo de capitalização", disse Mário Centeno, que está esta quarta-feira a ser ouvido pelos deputados da Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA).
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De acordo com o governante, as fases do processo de recapitalização, num montante superior a cinco mil milhões de euros, "estão a ser cumpridas" e estão a ser acompanhadas pelo Banco Central Europeu (BCE), Comissão Europeia (através da Direção-Geral de Concorrência) e Mecanismo Único de Supervisão.
O ministro respondia ao deputado do PSD Leitão Amaro, que acusou Mário Centeno de não responder diretamente às questões colocadas, interpelando mesmo a presidente da Comissão para recordar que o governante evitou falar sobre o montante do aumento de capital, o aumento do nível de imparidades do banco público, a exceção ao estatuto do gestor público dado à administração de António Domingues (que provocou uma acesa polémica, que levou à demissão da equipa em dezembro) e ainda o eventual uso de informação privilegiada pelos ex-administradores.
O ministro das Finanças não concordou com a avaliação feita pelo PSD e garantiu: "Respondi às questões todas, não faltou uma".
Não há um vazio de administração na CGD
Centeno considerou ainda que a fase de transição entre a saída de António Domingues da liderança da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e a entrada em funções do próximo presidente, Paulo Macedo, não criou um vazio de poder no banco.
"Os processos a decorrer não criam nenhum vazio de poder. Não há um vazio de administração na CGD, nem os reguladores e supervisores permitiriam tal coisa. Aquilo que estamos a preparar é a nomeação do próximo Conselho de Administração", destacou o ministro das Finanças.
Segundo o governante, "esse processo está numa fase muito avançada e nos próximos dias o Conselho de Administração tomará posse". E salientou: "Todos gostaríamos que este processo fosse mais célere e o Governo tudo fez que para tal acontecesse".
De resto, Centeno admitiu que preferia que António Domingues tivesse aceitado permanecer em funções até à tomada de posse de Paulo Macedo, mas desvalorizou a nega do antigo administrador do Banco BPI. "O Dr. António Domingues assim não entendeu, porque no seu entender não havia condições [para ficar mais alguns dias à frente da CGD]. Não saiu daí nenhuma perturbação para o processo de transição, nem há um vazio de poder na CGD", vincou.
Antes, durante as suas intervenções nesta comissão parlamentar, tanto o PSD como o CDS destacaram que, desde que o atual governo tomou posse, a CGD já vai na terceira administração e que conseguiu criar um "segundo vazio de poder" no prazo de um ano.
O Governo Costa tomou posse no final de 2015 quando estava na CGD a administração liderada por José de Matos, que o executivo quis substituir logo no início de 2016 mas cujo mandato se prolongou até final de agosto passado (apesar da saída de vários administradores) enquanto decorriam as negociações com as instituições europeias relativas ao processo de recapitalização e ao plano de negócios.
A administração de António Domingues entraria em funções no final de agosto, mas várias polémicas, sobretudo em torno da exceção ao estatuto do gestor público, que permitia que não fossem públicas as declarações de património e rendimento dos novos administradores, levaram à saída da maioria dessa equipa em dezembro.