António Costa admitiu claramente, esta quarta-feira, no Parlamento, que o presidente da CGD se demitiu devido ao projeto-lei do PSD que obrigava a administração do banco público a entregar as declarações de rendimento no Constitucional.
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Confrontado pelo líder do PSD, que exigiu "uma simples explicação para o que se passou", o primeiro-ministro foi claro: "porque foi aprovada uma iniciativa legislativa que a administração da Caixa [Geral de Depósitos] admitiu que lhe diminuía as capacidades".
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Passos Coelho, o primeiro que questionou o Governo no debate quinzenal, num tom certeiro e objetivo disse que o país desconhece "até hoje porque é o presidente da Caixa [António Domingues] se demitiu". Assim, como "não foi possível obter nenhuma evidência do processo de recapitalização".
O líder social-democrata acusou ainda Costa de mostrar "pouca disponibilidade para explicar a sua responsabilidade" [no ocorrido no banco público].
Já o primeiro-ministro admitiu que lamenta "que a administração se tenha demitido", mas que, por agora, tem "muita satisfação que Paulo Macedo tenha aceite" o convite para a presidência da CGD.
A iniciativa legislativa do PSD, que obrigava António Domingues e outros administradores a declarar os rendimentos e património ao Tribunal Constitucional, foi aprovada no Parlamento a 21 de novembro, com os votos favoráveis do Bloco de Esquerda e do CDS, com o PS e PCP contra. Dois dias depois aquele grupo de banqueiros bateu com a porta.
BE sobre Paulo Macedo: foi o que "mais privatizou e escondeu os problemas públicos"
Durante o debate, a porta-voz do BE explicou que os bloquistas votaram "em consciência" tal iniciativa, porque há muito que o partido defende cortes nos salários dos banqueiros, assim como regras de "transparência".
Segundo Catarina Martins, foi por esse motivo que o Bloco se juntou ao PSD, mas acusou os social-democratas de terem o objetivo de permitir exceções salariais como aquela "que permitiu Fernando Pinto ganhar de 423 mil euros na TAP".
A líder bloquista mostrou ainda desconfiança com o nome que substituiu António Domingues, defendendo que Paulo Macedo, enquanto ministro da Saúde no anterior Governo foi o que "mais privatizou e escondeu os problemas públicos".
Já a centrista Assunção Cristas desafiou Costa a explicar não só o que aconteceu na Caixa, como a mostrar provas das "declarações que fez" sobre "maquilhagem de contas" no banco público durante a gestão PSD/CDS.
A presidente do CDS, que acusou António Costa de não se dirigir aos deputados há de 55 dias consecutivos, sublinhou que entre 2011 e 2015 a anterior administração liderada por José Matos encontrou 6 mil milhões de imparidades na Caixa.
Na resposta, Costa disse que quando PSD e CDS "estavam no Governo resolveram maquilhar a situação [do sistema financeiro] para simular uma saída limpa". Para o primeiro-ministro, se a Direita fosse Poder "continuaria a lavar as mãos como Pilatos em relação ao sistema financeiro".
À Esquerda, tanto PCP, como PEV admitiram preocupações por ser Macedo quem levará a cabo o processo de recapitalização do maior banco português. Se Jerónimo de Sousa disse sentir "reservas" pelo novo presidente da Caixa, Heloísa Apolónia disse que o ex-ministro da Saúde é "uma potencial ameaça ao serviço público".