As consultas nos centros de saúde em que é feita a avaliação e monitorização da atividade física e comportamento sedentário dos utentes caíram desde o primeiro ano da pandemia e a descida tem sido consecutiva.
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Em 2022, a proporção dos utilizadores dos cuidados de saúde primários que foram monitorizados foi de 569,8 utentes por cem mil, menos do que em 2021 e 2020. A informação consta do último relatório do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física da Direção-Geral da Saúde (DGS). Os médicos de família defendem uma resposta integrada entre os centros de saúde e os programas comunitários de exercício físico, através das autarquias. Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, diz que "o défice do registo não impede que o tema seja falado nas consultas".
Numa análise ao documento da DGS, é notória a redução desde 2020 da proporção de utentes dos centros de saúde avaliados pela primeira vez quanto à atividade física e ao comportamento sedentário. No primeiro ano da pandemia, 702,4 em cada cem mil utentes foram monitorizados. Em 2021, o número desceu para 682. No ano passado, ficou-se pelos 569,8. O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar aponta que "menos registo [dos dados de monitorização] não significa que o tema do comportamento sedentário não seja falado". Nuno Jacinto afirma que a alimentação e o exercício físico são conteúdos regularmente abordados com os grupos de risco.
Mais prescrições de exercício
Os próprios investigadores da DGS reconhecem que "fruto do período de pandemia por covid-19 e maior volume de trabalho por parte dos profissionais de saúde", a incidência anual de utentes avaliados quanto à atividade física caiu em 2020 e 2021 e não recuperou em 2022. O pico da monitorização ocorreu em 2019, com 1031 utentes avaliados em cada cem mil utilizadores.
Para o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, seria importante que a monitorização dos centros de saúde estivesse ligada a programas municipais de exercício físico, para que os utentes pudessem colocar em prática os conselhos dos médicos e dos enfermeiros de família. André Biscaia diz não conhecer a realidade de todos os centros de saúde, mas acredita que a maioria tem a "monitorização [da atividade física] integrada nos processos" de trabalho.
Ao contrário da descida nos registos de monitorização, a emissão de guias de aconselhamento breve de atividade física está a subir. Em comparação com 2020 e 2021, houve mais utentes a receber uma prescrição médica para a realização de exercício físico no ano passado. Foram cerca de 48,5 utentes por cada cem mil, contra 34,2 e 32,3 nos dois últimos anos, respetivamente. Nuno Jacinto aponta que há "atividades de exercício físico que não implicam um grande custo ou investimento", como fazer caminhadas.
Treze unidades com consultas de atividade física
Em meados de 2022, a DGS voltou a colocar no terreno a fase 2.0 das consultas de atividade física, um projeto-piloto que pretende promover o exercício físico no SNS. O utente é acompanhado por um médico graduado em medicina desportiva e um profissional do exercício físico. Neste momento, 13 centros de saúde aderiram à iniciativa: sete são no Norte, um no Centro, quatro em Lisboa e Vale do Tejo e um no Alentejo. Os especialistas da DGS dizem estar a estudar as "barreiras à implementação da consulta de atividade física" no país.
Detalhes
Ferramentas
Nos centros de saúde, é possível fazer a avaliação dos níveis de atividade física e do comportamento sedentário dos utentes, através de ferramentas digitais, disponíveis no sistema de informação SClínico. Os profissionais de saúde também podem fazer o aconselhamento breve de atividade física aos utentes.
Formação
A plataforma NAU e a DGS lançaram um curso em formato e-learning para capacitar os profissionais do Serviço Nacional de Saúde sobre princípios, técnicas e ferramentas digitais para o aconselhamento breve de atividade física aos utentes.