Nova linhagem da ómicron fez disparar os casos de pessoas que voltaram a ter a doença, com destaque para os menores de nove anos e adultos jovens até aos 39 anos.
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Uma em cada quatro (25%) crianças infetadas até aos nove anos voltou a ter covid. As reinfeções crescem com a nova linhagem da ómicron (BA.5), sobretudo entre os menores e a população mais jovem até aos 39 anos. O matemático Carlos Antunes explica que o país passou de uma taxa de reinfeção de 2% para 12% entre todas as faixas etárias. O Norte é a região com mais casos (6% de reinfeções), seguida de Lisboa e Vale do Tejo (5,5%), do Centro (5%), do Alentejo (4,5%) e, por fim, do Algarve (4%). Em Portugal, contam-se 243 mil pessoas que tiveram a doença duas vezes e 3015 foram infetadas três ou quatro vezes.
"Em meados do ano passado, 2% dos doentes eram reinfeções. A partir de 7 de dezembro de 2021, a percentagem subiu para 6% e, com a BA.5, passou para 12% no final de abril. As novas variantes têm uma maior capacidade de reinfeção e de contornar o sistema imunitário do que as anteriores", alerta, ao JN, o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, sublinhando, no entanto, que existe uma "grande discrepância" por faixa etária.
De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a linhagem BA.5 da ómicron é responsável por 87% das infeções em Portugal.
Mais velhos com menor taxa
Os mais velhos, com idades acima dos 60 anos, apresentam a taxa mais baixa de reinfeção (8 a 9%), condizente também com uma grande perceção de risco que se traduz num comportamento de maior recato social e na adoção generalizada de medidas de proteção individual, como as máscaras. No campo oposto, estão os adultos jovens dos 20 aos 39 anos (com uma taxa de reinfeção dos 22 aos 25%) e as crianças até aos nove anos.
Neste último grupo, a reincidência da doença está a afetar, sobretudo, os menores dos cinco aos nove anos. Entre estes, a taxa de reinfeção é de quase 30%, correspondendo a uma em cada três crianças infetadas pelo coronavírus. O matemático Carlos Antunes admite que a menor cobertura vacinal desta faixa etária contribua para este desfecho.
Entre os 20 aos 39 anos, a taxa vacinal é muito superior e a reinfeção poderá ser uma consequência da "própria dinâmica" social, da irreverência da juventude e da baixa perceção de risco. "Acham que não ficam doentes e têm um comportamento social que pode proporcionar estas situações", reconhece o investigador, que está preocupado, também, com o crescimento do internamento de infetados nos hospitais, em particular na região Norte. Embora também se note já um aumento em Lisboa e Vale do Tejo.
Proporcionalmente, face a janeiro deste ano, há hoje mais pessoas com covid internadas nos hospitais nortenhos, o que pressiona a capacidade de resposta das unidades hospitalares.
Pressão sobre os Hospitais
Na segunda-feira (30 de maio), estavam ocupadas 875 camas em enfermaria e em unidades de cuidados intensivos nos hospitais daquela região, com um pico médio de 10 mil novos casos por dia.
Ora, em janeiro, Portugal contabilizava 26 mil casos por dia, em média, e foram ocupadas cerca de mil camas. "Se tivéssemos a mesma taxa de internamentos de janeiro [face ao número diário de novos casos], devíamos estar com 385 camas ocupadas nos hospitais do Norte. Em Lisboa, também há uma desproporção, mas não é tão grande" com naquela região, calcula. Carlos Antunes não sabe explicar este aumento dos internamentos, apesar de lembrar que existe uma grande percentagem de pessoas vacinadas há mais de cinco meses: "Há um decaimento da efetividade vacinal".