Perante as novidades que estão para chegar e as dúvidas sobre a eficácia das atuais vacinas após tantas variantes, milhares de portugueses estarão a questionar se vale a pena tomar agora mais uma dose ou esperar por uma imunização mais eficaz na entrada do outono. Os especialistas ouvidos pelo JN divergem.
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A Agência Europeia do Medicamento anunciou, na quinta-feira, que as vacinas contra a covid-19 adaptadas às novas variantes do vírus poderão ser aprovadas em setembro. Já as de segunda geração, que estão a ser desenvolvidas para bloquear a transmissão do SARS-CoV-2, "não estarão no mercado este ano".
Perante as novidades que estão para chegar e as dúvidas sobre a eficácia das atuais vacinas após tantas variantes, milhares de portugueses estarão a questionar se vale a pena tomar agora mais uma dose ou esperar por uma imunização mais eficaz na entrada do outono.
Os especialistas ouvidos pelo JN concordam que as vacinas perderam eficácia, mas divergem sobre se ainda devem ser tomadas.
Para o investigador Miguel Castanho, continuar a imunizar a população saudável abaixo dos 60 anos com as atuais vacinas é "chover no molhado". Mesmo se em causa estiver a dose de reforço. Milhares de portugueses que ficaram infetados no maior pico da pandemia, no início deste ano, estão a ser chamados para tomar a terceira dose. "Esta população mais nova e saudável tem imunidade, ou pela vacina ou pela infeção", refere.
O investigador da Universidade de Lisboa entende que a vacinação não deve ser uma arma isolada de combate à covid-19 e que a atual incidência e mortalidade exigem mais medidas. De resto, acha "contraditório" que se chamem os infetados recentemente para a terceira dose e ao mesmo tempo se levantem quase todas as restrições.
Para os maiores de 80 anos, que já estão a ser chamados para o segundo reforço ou quarta dose, Miguel Castanho não é tão assertivo, mas também tem dúvidas: "às portas do verão e sem outras medidas de proteção é um contrassenso". Que pode acarretar riscos, nomeadamente a "saturação" e consequente redução da adesão às campanhas.
Plano pode ser ineficaz
O pneumologista Filipe Froes reconhece que as vacinas em uso estão em fim de vida e têm de ser rapidamente substituídas por outras mais eficazes no controlo da incidência e gravidade da doença. Sob pena do plano de vacinação do próximo Outono, que segundo a ministra Marta Temido já está pronto, ficar comprometido. "Vacinas pouco eficazes põem em causa qualquer plano para controlar a doença", realça o ex-coordenador do gabinete de crise para a covid-19 da Ordem dos Médicos.
A este propósito, Filipe Froes alerta para a importância do país se posicionar para a aquisição das novas vacinas, já que tudo indica que, desta vez, não haverá compras centralizadas a nível europeu.
Quanto às atuais vacinas, apesar de menos eficazes, "ainda são úteis" na diminuição do risco dos infetados desenvolverem doença grave e morrerem. E por isso, "temos de focá-las nas pessoas que mais beneficiam": os imunodeprimidos, os mais velhos (a partir dos 60 anos) e os profissionais de saúde.
Os que estão agora a ser chamados para a primeira dose de reforço, mesmo aqueles que tiveram infeção recente, devem tomá-la, na opinião do médico. "Todas as pessoas devem ter o esquema vacinal completo e a dose de reforço", defende Filipe Froes.
Pormenores
25% já tem quarta dose
Um quarto da população com 80 ou mais anos já tomou a segunda dose de reforço (ou quarta dose no total) da vacina contra a covid-19, segundo o relatório de situação publicado ontem pela Direção-Geral da Saúde. No grupo etário abaixo (65-79 anos), 1% já tomou o segundo reforço.
Terceira dose em curso
Quanto ao primeiro reforço após a vacinação completa, a cobertura é quase total no grupo dos 65-19 anos (98%) e dos 80 ou mais anos (96%). Na faixa etária dos 50-64 anos é de 84%, na dos 25-49 anos de 61% e na dos 18-24 anos é de 47%, indica a DGS.
Várias variantes
A indústria farmacêutica está a trabalhar na adaptação das atuais vacinas às novas variantes, para que sejam mais eficazes não só na proteção da doença grave e na morte, mas também na transmissão do vírus. Estão também em desenvolvimento vacinas que combinam várias variantes (bivalentes).
Nova geração
As vacinas de nova geração, que segundo a EMA só chegarão ao mercado em 2023, poderão ser muito mais eficazes a bloquear a transmissão do vírus. São ainda expectáveis novos modos de administração, como o nasal.