Fornecem alimentação e disponibilizam alojamento temporário. Procuram financiamento e têm na calha mais soluções para promover competências e autonomia.
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As cidades estão empenhadas em arranjar um teto para as pessoas em situação de sem-abrigo, um problema de muitas zonas urbanas em Portugal. Há autarquias e instituições a tentarem respostas inovadoras e a procurarem fundos para mais alojamentos.
Em Braga, a Câmara e a BragaHabit uniram-se para criar uma "house of skills", uma "solução inovadora" que visa ajudar os sem-abrigo a melhorarem as suas competências pessoais, sociais e profissionais, adiantou a vereadora Carla Sepúlveda. Deverá entrar em funcionamento ainda "este ano".
Em Aveiro, a Câmara não planeia concorrer a apoios do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem uma fatia de 9,5 milhões de euros nesta área, mas tem em curso um programa de apartamentos partilhados. Dois dos quais "cedidos pela Câmara", realça o edil Ribau Esteves. Muitas vezes, acrescenta, há pessoas que permanecem nas ruas porque "recusam" ajuda.
A mesma situação foi constatada em Coimbra pela vereadora Ana Cortez Vaz, que por vezes acompanha os técnicos nos giros. O Município contabiliza "50 sem teto, na maioria pessoas que não aceitam apoio, sobretudo por haver regras". A estas somam-se "120 sem casa", que pernoitam em centros de acolhimento ou têm resposta no programa "Housing First, nos apartamentos partilhados ou alojamentos suportados pela Segurança Social.
Coimbra conseguiu "financiamento da Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário" e está a instalar um abrigo de emergência para pessoas vulneráveis, nomeadamente "vítimas de violência e de tráfico humano", que espera ter pronto no final do próximo ano, conta a vereadora. Também está a "analisar" o aviso do PRR nesta área.
Mais atendimentos
Em Lisboa, refere a Santa Casa da Misericórdia, "tem-se verificado um elevado número da população em situação de sem-abrigo". Em 2021, "a unidade de emergência da Santa Casa realizou 13 590 atendimentos a 3259 utentes", mais 715 atendimentos sociais do que em 2020. "Não obstante o investimento efetuado no alargamento e criação de respostas de alojamento", refere a Misericórdia, "assistimos atualmente na cidade de Lisboa a uma enorme escassez de respostas de alojamento".
Porto aumenta vagas
Mais a norte, o Porto contabilizava no final do ano passado 730 pessoas em situação de sem-abrigo (231 sem teto e 499 sem casa), adiantou a Autarquia ao JN, explicando que os sem casa encontram resposta em centros de acolhimento temporário (33%), apartamentos partilhados (13%) e quartos arrendados com apoio da Segurança Social (54%). "No âmbito do acordo assinado pela Segurança Social com a Associação Seis, a partir desta data, vai haver um incremento da oferta de mais 40 vagas em apartamentos partilhados no Porto", revela.
Bolsa
Misericórdia de Lisboa com quatro candidaturas
A Santa Casa de Lisboa apresentou quatro candidaturas ao PRR no âmbito da Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário e está a preparar a submissão de mais quatro. A intenção é aumentar a resposta a quem careça de alojamento de emergência (devido a acontecimentos excecionais, ou casos de risco iminente), ou de transição, antes de serem encaminhadas para uma solução definitiva".
Dados
9,5 milhões de euros
é quanto o Governo tem disponível no PRR. Esta verba destina-se a criar 120 lugares para as comunidades de inserção e 250 na habitação cooperativa.
9000 sem-abrigo
em todo o país, segundo dados provisórios de 2021. No ano passado, perto de 700 pessoas foram retiradas das ruas.
Lá por fora
Duches móveis em França
A associação Solidários de Bulles adquiriu uma autocaravana para fazer percursos pela cidade de Rennes, em França, e permitir que os sem-abrigo tomem banho e tratem da higiene. O espaço do veículo dedicado à higiene foi ampliado.
Microcasas nos Estados Unidos
Casas pequenas, com apenas nove metros quadrados. Esta é uma das ideias inovadoras que está a permitir que os sem-abrigo tenham um sítio para viver. Está a ser implementada na Califórnia, Indiana, Missouri e Oregon, nos Estados Unidos. O "Los Angeles Times" relatava, em fevereiro, que o ex-ator e político Arnold Schwarzenegger doou dinheiro para 25 casas, destinadas a veteranos sem teto.
Inglaterra deu chapéus e protetor solar
Instituições de solidariedade distribuíram água, chapéus e protetor solar aos sem-abrigo no Sul de Inglaterra, durante as ondas de calor que assolaram o país no verão. A medida foi implementada em locais como Oxford, Southampton e Portsmouth.
Barcelona tem guia com serviços
O guia (Sobre)vivir nas ruas de Barcelona compila os recursos públicos e privados de que a cidade dispõe para dar resposta às necessidades de quem não tem teto. Tem uma lista de locais onde tomar banho, lavar a roupa, cortar o cabelo, comer e centros que atendem toxicodependentes, entre outros.