Chaves, Bragança e Miranda do Douro têm nos vizinhos uma fatia importante no comércio tradicional. Lojas estão ainda mais vazias.
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Os cálculos estão por fazer, mas o impacto da ausência dos turistas e clientes espanhóis nas cidades transfronteiriças transmontanas pode ditar o fim de muitos negócios que vivem um mau momento. O desconfinamento dá os primeiros passos e poder contar com clientes do país vizinho seria "um alívio", admite Ernesto Marques, proprietário de dois bares e um restaurante em Chaves. Entre 30% e 40% dos clientes eram espanhóis. "Eu falo de clientes diários. É gente que adere muito a Chaves e vem sobretudo aos restaurantes. Como vamos aguentar sem esses clientes mais um mês, numa altura em que as coisas estão más?", pergunta o empresário.
A relação entre os dois povos sempre foi forte mas aumentou com a criação da Eurocidade Chaves-Verin. Pelo posto de turismo passaram, entre 1 de janeiro e 13 de março, mais de 2170 turistas, a maioria deles espanhóis, mas os números não refletem a quantidade de visitas, pois são ainda poucos os que procuram informações. As termas são outra atração, todavia ainda não reabriram.
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Há remédio
Ernesto acredita que se as fronteiras reabrirem em meados de junho, e os espanhóis voltarem, "ainda se poderá minimizar bastante as perdas dos últimos meses, porque eles são fundamentais". O empresário acredita que virão. "Chaves teve poucos casos de infeção por covid-19. Ora isso, pode ser um atrativo para que os espanhóis regressem, por se sentirem em segurança", acrescenta. Este empresário, conjuntamente com outros 11, pediu à Câmara de Chaves para ocupar com esplanadas uma zona ajardinada e parte da estrada. "Para estar toda a gente em segurança", destacou.
Além das restauração, o comércio de vestuário e calçado ressente-se da ausência dos espanhóis. Que o diga Nuno Dias, proprietário de uma sapataria, a quem dava muito jeito ter de volta os mais de 20% dos seus clientes que moram do outro lado da fronteira.
A avaliação é semelhante em Bragança e Miranda do Douro. Nesta última, uma cidade mais pequena onde os espanhóis são o oxigénio do comércio. Sónia Alves, proprietária da loja Squesito, de produtos tradicionais, garante que não há turistas nem espanhóis nem portugueses. "Depois de tanto tempo fechados, estamos a viver com o público local. Estamos a flutuar", contou a comerciante, que "pondera tantos cenários", mas ainda não encontrou a receita para sair da crise.
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Turismo crescia
Em dois meses e meio deste ano passaram mais visitantes no posto de turismo de Chaves (2176) do que em 2018 (2064) e 2019 (1997).
122 empresas
Responderam a um inquérito da ACISAT para avaliar o impacto da covid 40 empresas de comércio, 30 do turismo e 22 de serviços: 80% tiveram a atividade suspensa, 2,5% encerraram e 9,4% despediram.
Aposta no local
A ACISAT quer apostar na promoção da qualidade dos produtos locais e nas medidas de higiene e segurança para dar confiança aos clientes. Mais de 46% das empresas pretendiam recorrer à ajuda do Governo e 63% recorreram ao lay-off.
Expectativa moderada
40% dos empresários esperam quebras de receitas entre 25% e 50% no verão, mas 31% receiam perdas entre 50% e 100%.