As quatro rodas rolam cada vez mais pelos centros urbanos do país, com os skaters a fazer viagens de norte a sul, em busca dos melhores "spots". A modalidade está em voga e as autarquias começam a oferecer condições a uma prática desportiva outrora olhada com desagrado. O caso mais recente é o de Aveiro.
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Olham as cidades pelas bases, em busca de "spots" onde possam treinar manobras, sejam elas mais ou menos arriscadas. E percorrem quilómetros à procura de adrenalina e de convívio. Os skaters são, cada vez mais, uma presença bem-vinda às cidades portuguesas. Tanto que as autarquias estão a investir em infraestruturas que possibilitem melhores condições à prática da modalidade. Como em Aveiro, onde o novo "skate park" do Parque dos Amores/Parque da Cidade está, todos os dias, à pinha de gente, mesmo ainda não tendo sido inaugurado.
Nem o facto de ter partido o pé, quando tinha 12 anos, pouco depois de ter aprendido a andar de skate, fez Pedro Rodrigues, hoje com 21, desistir. Resiliência e teimosia são, aliás, características dos amantes do skateboarding. Pedro é presença habitual do novo "skate park" aveirense, onde treina e onde começou , recentemente, a dar aulas da modalidade.
"Esta obra veio trazer evolução. Dá-nos imenso jeito para treinar, porque tem muitos obstáculos parecidos com os dos "skate parks" onde são feitos os campeonatos", explica o jovem.
Desengane-se, no entanto, quem julga que um "skate park" só se destina aos skates. Os espaço adequa-se, também, a quem pratica BMX. E é por isso que outra das presenças assíduas no Parque dos Amores é Ricardo Silva, - ou "Rato" - como é conhecido, de 21 anos. É que se noutras cidades há rivalidades entre os amantes de skate e de BMX, em Aveiro não. "Aqui, somos todos amigos e estamos cá para nos divertirmos", garante o jovem, que gosta de utilizar o "skate park" como aquecimento, para depois "partir para a rua".
A luz que a chama olímpica acendeu
É na rua que fervilha a cultura do skate e do BMX. Descobrir muros, paredes e rampas onde se possam fazer manobras faz parte da essência. Mesmo que isso nem sempre seja visto com bons olhos pelos outros. "Mas já há muitos anos que não temos grandes problemas", refere Rato. "Acho que o nível de skate e de BMX já está a crescer para além de só nos verem como gandulos. Já estamos nos Jogos Olímpicos, já temos várias competições a nível mundial e acho que as pessoas já começam a aceitar que isto é um estilo de vida", refere Rato, que tem por hábito viajar com os amigos em busca de "spots" em várias cidades.
Lisboa é, dizem os praticantes, a cidade portuguesa "com melhores condições" para praticar skateboarding, devido aos seus múltiplos "skate parks". No Norte, segue-se-lhe o Porto, onde o recente Parque Desportivo do Ramalde chama muitos "skaters". Sem esquecer a "mítica" - como a apelidam - Casa da Música, cujo exterior do edifício é um parque improvisado para dezenas de jovens. Depois, a Maia e a Póvoa de Varzim também entram na lista dos "spots" favoritos, a par de Barcelos e de Braga.
Rúben Costa, de 37 anos, presidente da associação Braga Skate, confirma que a prática de skate está de novo na moda, à boleia "do trabalho que tem sido feito, a nível nacional e local". E quer que a modalidade ultrapasse os limites do desporto e da competição, para levar a cabo, em conjunto com a Câmara, um "projeto social, com aulas de skate gratuitas para crianças vítimas de maus-tratos". No entanto, enquanto a pandemia não o deixa avançar, vai continuando a percorrer cidades, na descoberta dos locais para a melhor manobra. "Vamos muito para Macedo de Cavaleiros, por exemplo, porque descobrimos que a cidade parece que foi desenhada para andar de skate. É perfeita", assegura.
O Porto merecia um parque "indoor" e Matosinhos não tem nenhum "skate park", quando há um número de praticantes gigante
Hoje em dia, andar na rua a usufruir dos melhores "spots" é sinónimo, também, de filmar e fotografar as manobras, para depois publicar nas redes sociais. Seja porque os "skaters" são patrocinados por marcas, seja apenas por lazer. "É uma forma ótima de divulgar as cidades e de mostrar sítios giros, para atrair pessoas novas", frisa João Neto, de 32 anos, proprietário da Kate Skateschool, a operar no Porto e na Maia.
Pelo potencial da modalidade, e devido ao número de adeptos - tendo em conta que só na sua escola tem cerca de 50 alunos, dos 5 aos 45 anos -, Pedro gostava que as autarquias apostassem ainda mais no skate. "O Porto merecia um parque "indoor" e Matosinhos não tem nenhum "skate park", quando há um número de praticantes gigante", assegura o instrutor.
No caso de Aveiro, o novo parque abriu portas a uma ligação, outrora inexistente, entre a Câmara e a comunidade "skater". "Fomos chamados para dar sugestões, antes de ser construído, para ficar ao nosso gosto. Nunca antes tinha sido feita uma aproximação dessas. Podermos ter opinião é um sinal de confiança que nos deram", frisa, satisfeito, Renato Aires, sem largar o skate, seu companheiro diário. Afinal, é um dos praticantes de skate no ativo mais velhos de Aveiro. Gosta, acima de tudo, tal como os amigos, de "aproveitar a cidade".